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PiTacO do PapO - ' A Comédia Divina' (2017)

NOTA  8.0

Por Rogério Machado 

"Que queres tu, meu pobre Diabo? As capas de algodão têm agora franjas de seda, como as de veludo tiveram franjas de algodão. Que queres tu? É a eterna contradição humana."

O trecho acima é extraído do conto 'A Igreja do Diabo' (1884), de Machado de Assis, e o novo longa do diretor Toni Venturi é uma adaptação da obra do mestre que mesmo há mais de um século atrás, já propunha uma discussão que sempre será atual e globalizada: o conto possui um objetivo claro, que é demonstrar a fraqueza e ‘contradição’ humana. 'A Comédia Divina', que foi destaque no Festival do Rio, já chega dia 19 de outubro ao circuito comercial.



Na história, o Diabo (Murilo Rosa) anda meio desacreditado no imaginário das pessoas, e preocupado com sua decrescente popularidade, ele mesmo resolve vir à terra fundar sua própria igreja onde tudo o que é proibido passa a ser permitido. O ser humano é estimulado a liberar seus instintos primais e realizar suas fantasias reprimidas. O pecado não é a gula, mas a fome. A inveja é a essência da concorrência e o que faz a humanidade progredir. Usando a televisão para propagar a chegada da nova religião, e com a ajuda de uma jovem jornalista, Raquel, (Mônica Iozzi) , Satanás instala a desordem e o mundo vira um caos de delícias e confusões. A adesão à nova doutrina preocupa anjos, religiosos e carolas, mas Deus, de quem se espera uma reação espetacular, não se importa com a queda de preferência. Pelo contrário, só pensa em seus joguinhos de azar para driblar o tédio celestial. 

O diretor Toni Venturi ('Estamos Juntos' -2011), que sempre pautou sua carreira em produções mais sérias ou documentários, dessa vez investe num gênero mais leve, mas nem por isso sem profundidade - o tom crítico da obra, seja para com a sociedade, a mídia sensacionalista, ou mesmo a política, rendem boas sequências, tendo um texto afiadíssimo e bem empregado numa montagem e edição ágeis, que casam bem com a proposta de contextualizar a obra de Machado de Assis.

Luxúria, gula, avareza, ira, soberba , vaidade, preguiça... é claro que os sete pecados serviriam de amparo em alguns momentos da longa, e são alguns deles como a gula por exemplo, que entregam momentos mais cômicos. Mas é bom ressaltar que a comédia, mesmo não sendo um pastelão (amém!), consegue manter o interesse do público pelo tom de deboche que toma conta do clima do filme - destaque para o tom sarcástico de Murilo Rosa , e o Deus interpretado por  Zezé Motta que mesmo com todas as afrontas do tinhoso, não tira o sorriso bobo do rosto. 

O final infelizmente cai no clichê e procura uma saída muito superficial para fazer com que tudo terminasse bem, porém, mesmo deixando à desejar no desfecho, o filme de Venturi acerta em cheio no tom e na essência, se reafirmado em um gênero que no Brasil sempre procura o caminho mais fácil. 'A Comédia Divina' não chega a ser um primor como a obra em que se inspirou, mas consegue o feito de mesclar crítica social e comédia, e o melhor , com inteligência. 


Vale Ver !

DIREÇÃO
Toni Venturi

EQUIPE TÉCNICA
Roteiro: José Roberto Torero
Produção: Rui Pires, Toni Venturi
Fotografia: Carlos André Zalasik
Distribuidora: Imagem Filmes

ELENCO

Dalton Vigh, Débora Duboc, Juliana Alves, Monica Iozzi, Murilo Rosa, Thiago Mendonça, Thogun Teixeira, Zezé Motta

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