Adsense Cabeçalho

Star Wars: Os Últimos Jedi - Indo Além da Levitação de Pedras

Atenção 🚫 Crítica com Spoiler ! 

Por Vinícius Martins @cinemarcante 


Já falei em outro artigo sobre o bom gosto que me vem ao ver um belo trabalho de perspectiva. Um exemplo ainda não citado é o do primeiro trailer de 'Os Últimos Jedi’, que começa mostrando um esplêndido céu estrelado que, aos poucos, se transforma na superfície de uma lua (ou de um planeta rochoso / asteroide), revelando ser, logo após isso, só uma pedra na beira de uma encosta cujos minerais estão expostos, recebendo o pouso nada suave da mão de Rey. Essa mesma brincadeira ilusória se faz presente também em todo o filme, só que em uma escala muito maior. Passado e presente se abraçam rumo ao futuro em um encaixe perfeito, sem superestimar ou reduzir ninguém. Núcleos divididos e arcos bem construídos criam aqui uma atmosfera tensa e insegura, de modo que a cada nova informação somos levados a crer que é “um céu noturno”, ou “a superfície de uma lua”.



Dentre os muitos triunfos dessa safra de filmes, está o resgate de elementos e nomes antigos do elenco. James Earl Jones deu uma nova vida com sua voz firme e compassada para Darth Vader em 'Rogue One’ em 2016, e agora Frank Oz retorna para a franquia como o verdadeiro e legítimo Yoda, em sua versão aparentemente caduca e seu espírito provindo da zoeira. Colocá-lo na trama não foi um trabalho de fan-service gratuito, e provou ser uma ótima ideia com um ótimo aproveitamento, já que seu nome, assim como o de Vader, permanece consagrado e ainda se faz vivo no imaginário popular. Trazê-los de volta para pelo menos mais uma participação foi uma jogada de mestre. Oz, nesse novo filme, também manipula a marionete do “fantasminha” de Yoda, que por fim dá um toque genuinamente clássico que remete imediatamente aos filmes 'O Império Contra-Ataca’ e 'O Retorno de Jedi’. O review que é feito da identidade da trilogia original, com o uso desses personagens icônicos da cultura pop, mostra para a geração atual que essas figuras são muito mais do que as estampas das camisetas que vemos hoje em dia.



E dentre tantas homenagens, temos o ponto mais sensível do filme: a morte de Carrie Fisher. Houve algumas oportunidades para resolver a questão da morte da atriz dentro do universo de Star Wars, podendo ter matado sua personagem, a princesa/general Leia Organa, de diversas maneiras nas várias cenas em que ela ficou vulnerável. Só que, ao contrário do esperado, a produção seguiu corajosa e a manteve viva para o vindouro episódio IX, onde seu arco provavelmente se encerrará. O roteiro chegou inclusive a matá-la, tecnicamente, em uma cena de ataque. Ali seria justificável e até plausível que sua morte ocorresse, já que dentro do roteiro aquilo era esperado - independente da morte da atriz - e perfeitamente cabível. Teve a explosão que a jogou no espaço, a fuga nas naves de evacuação que foram sendo abatidas uma a uma, e arritmia cardíaca quando ficou conectada com Luke através da Força, a base rebelde na caverna que quase se explodiu, além da possibilidade de um encontro entre ela e o filho, Ben Solo, possuído pelo manto do mal. Tudo conspirava para a morte de Leia e, em contramão às expectativas, ela viveu. Se seu rosto será digitalmente sobreposto ao de outra atriz ou se haverá uma substituição no elenco, ainda não sabemos. Só o que podemos dizer com certeza é que sua participação ainda não acabou, e que o legado de Fischer dentro e fora das telas permanece vivo como nunca.



A beleza de 'Star Wars: Os Últimos Jedi’ vai além de sua fotografia primorosa, da trilha sempre mágica de John Williams, da direção de arte e das criaturas que cativam e enobrecem o contexto em que são mostradas; essa beleza está na dosagem exata de compreensão que seu diretor tem para o caráter de cada personagem, na disposição de mostrar uma mesma cena de formas diferentes para que a empatia seja sentida por ambos os lados, como a apresentação dos respectivos pontos de vista sobre o momento em que Luke quase cedeu ao lado sombrio da Força. Surpreendente e ousado, 'Os Últimos Jedi’ talvez seja melhor descrito pelo termo “imprevisível”, louvando, com seu balé de naves, a redefinição do conceito sobre equilíbrio.

O futuro, agora visivelmente incerto, se faz misterioso sobre o possível (ou não) retorno dos Jedi. Fica a expectativa de como será abordada a questão da criança que manifesta a Força, a questão da autoridade recém adquirida de Kylo Ren e a questão do equilíbrio de Rey. Que safra boa de filmes, senhoras e senhores, que safra!



'Papo de Cinemateca - Muito Cinema pra Todo Mundo'

Nenhum comentário