PiTacO do PapO - 'Maze Runner: A Cura Mortal' | 2018
NOTA 8.0
Tutorial da semana: Como ignorar os livros e se sair bem
Por VinÃcius Martins @cinemarcante
Há dois tipos de pessoas que saem do cinema após assistir aos filmes da franquia 'Maze Runner': os que acharam o filme legal e os que pensam “tiraram as melhores partes do livro, destruÃram a história”. O curioso nesse caso, em especial, é que ambos os grupos estão certos. Os filmes são, de fato, legais. Do primeiro ao terceiro, é nÃtida a visão do diretor Wes Ball e a pegada que ele dá para a série na proposta de simplificar as coisas e dar resoluções práticas para os efeitos. Porém, ao mesmo tempo em que os filmes são coesos em si mesmos, fogem absurdamente da história original escrita nos livros de James Dashner, o que decepciona imensamente aos fãs.
A nota 8 que dou para esse filme é concedida visando o filme como um trabalho individual, desconsiderando o material original. Se fosse levar em conta o livro que fecha a trilogia de Thomas (existe outra trilogia desse mesmo universo sob o tÃtulo Maze Runner, que é uma trilogia prelúdio), provavelmente minha nota não passaria de 6.
Em sua essência, o filme é bom; cansativo no começo, mas satisfatório em sua segunda metade. O problema é a ironia que se esconde por trás do contexto. A única coisa que é tida de verdade como um problema para quem assiste é, justamente, a resolução. São as situações que insistem em se solucionar com o uso do Deus Ex Machina (recurso que não se justifica e que aparece do nada para “salvar o dia”) que atrapalham o desenvolvimento sobre a noção do que perigosamente acontece de fato, impedindo que a dimensão do problema chegue aos olhos do espectador que já está esperando uma fuga miraculosa e sem sentido. É como se os planos fossem pensados para darem errado, só para usarem o plano B.
Os excessos vistos neste terceiro longa refletem a inconsistência de uma onda de filmes de distopia que já se apresenta como uma fórmula gasta. O tÃpico enredo de um grupo de rebeldes que vive em fuga e querem derrubar o sistema, e que para realizar esse feito tem que encarar o desafio de invadir uma fortaleza de concreto sem serem pegos (geralmente uma cidade que sedia o QG dos vilões) já foi visto nas telonas e não faz muito tempo. Acontece que isso está virando um clichê desses novos filmes adolescentes, como 'Jogos Vorazes' e 'Divergente', e com esses excessos de repetição pouco se acrescenta à s narrativas, de modo a impedir uma obra dessas de se tornar notável com o mérito do destaque. ‘Maze Runner: A Cura Mortal’ é mais um fruto dessa safra transviada (que por sinal é bem melhor do que a anterior, que insistia em vampiros e criaturas divinas ou folclóricas), mas está um degrau acima graças ao seu trabalho de pós produção.
Os efeitos são belÃssimos, com um toque de realismo orgânico, e mesmo nas cenas noturnas, onde geralmente é mais difÃcil fazer boas tomadas de batalha (‘Harry Potter e as RelÃquias da Morte: Parte 2’ que o diga…), é extremamente fácil se imaginar no cenário onde a ação acontece. A opção de Ball pelo uso da câmera na mão é certeira para centrar as lutas e transportar seu público para os cenários que apresenta. A distribuição do som, que explode em todas as suas caixas com um sincronismo visual impecável, é um espetáculo a ser imitado. O acidente com Dylan O’Brien, que vive o protagonista Thomas, deve ter dado mais tempo para que os produtores caprichassem no trabalho da pós.
Muito do sucesso de Maze Runner vem da diversidade que possui, tanto em sua história quanto em seu elenco. Para quem assiste séries, ficar a impressão de que Maze Runner reúne Teen Wolf, Skins, Breaking Bad e Game of Thrones em um conceito apocalÃptico que é uma mescla de The Walking Dead em uma fuga constante como a vista em Prison Break. Mas a série não se faz só em cima de rostinhos bonitos e atores multi-étnicos de séries consagradas; ela retrata o impulso da humanidade para a segregação, expondo de forma mais “poética” a intensidade com que o caos se instala quando alguém tem que ser sacrificado pelo bem de outros.
'Maze Runner', apesar de bom, tem tudo para cair no esquecimento em alguns anos. Lamentável, assumo. Uma série tão boa, com a qualidade que tem, merecia mais do que um 3D descartável e a lembrança de ser só mais uma dentre tantas outras. É melhor lembrar desse terceiro ato como uma despedida honrosa, bem coreografada e dona de uma das melhores cenas de elevador do cinema contemporâneo. Recomendo ver em IMAX, e rever os dois anteriores antes da sessão. Que a correria permaneça, então!
Vale Ver !
Tutorial da semana: Como ignorar os livros e se sair bem
Por VinÃcius Martins @cinemarcante
Há dois tipos de pessoas que saem do cinema após assistir aos filmes da franquia 'Maze Runner': os que acharam o filme legal e os que pensam “tiraram as melhores partes do livro, destruÃram a história”. O curioso nesse caso, em especial, é que ambos os grupos estão certos. Os filmes são, de fato, legais. Do primeiro ao terceiro, é nÃtida a visão do diretor Wes Ball e a pegada que ele dá para a série na proposta de simplificar as coisas e dar resoluções práticas para os efeitos. Porém, ao mesmo tempo em que os filmes são coesos em si mesmos, fogem absurdamente da história original escrita nos livros de James Dashner, o que decepciona imensamente aos fãs.
A nota 8 que dou para esse filme é concedida visando o filme como um trabalho individual, desconsiderando o material original. Se fosse levar em conta o livro que fecha a trilogia de Thomas (existe outra trilogia desse mesmo universo sob o tÃtulo Maze Runner, que é uma trilogia prelúdio), provavelmente minha nota não passaria de 6.
Em sua essência, o filme é bom; cansativo no começo, mas satisfatório em sua segunda metade. O problema é a ironia que se esconde por trás do contexto. A única coisa que é tida de verdade como um problema para quem assiste é, justamente, a resolução. São as situações que insistem em se solucionar com o uso do Deus Ex Machina (recurso que não se justifica e que aparece do nada para “salvar o dia”) que atrapalham o desenvolvimento sobre a noção do que perigosamente acontece de fato, impedindo que a dimensão do problema chegue aos olhos do espectador que já está esperando uma fuga miraculosa e sem sentido. É como se os planos fossem pensados para darem errado, só para usarem o plano B.
Os excessos vistos neste terceiro longa refletem a inconsistência de uma onda de filmes de distopia que já se apresenta como uma fórmula gasta. O tÃpico enredo de um grupo de rebeldes que vive em fuga e querem derrubar o sistema, e que para realizar esse feito tem que encarar o desafio de invadir uma fortaleza de concreto sem serem pegos (geralmente uma cidade que sedia o QG dos vilões) já foi visto nas telonas e não faz muito tempo. Acontece que isso está virando um clichê desses novos filmes adolescentes, como 'Jogos Vorazes' e 'Divergente', e com esses excessos de repetição pouco se acrescenta à s narrativas, de modo a impedir uma obra dessas de se tornar notável com o mérito do destaque. ‘Maze Runner: A Cura Mortal’ é mais um fruto dessa safra transviada (que por sinal é bem melhor do que a anterior, que insistia em vampiros e criaturas divinas ou folclóricas), mas está um degrau acima graças ao seu trabalho de pós produção.
Os efeitos são belÃssimos, com um toque de realismo orgânico, e mesmo nas cenas noturnas, onde geralmente é mais difÃcil fazer boas tomadas de batalha (‘Harry Potter e as RelÃquias da Morte: Parte 2’ que o diga…), é extremamente fácil se imaginar no cenário onde a ação acontece. A opção de Ball pelo uso da câmera na mão é certeira para centrar as lutas e transportar seu público para os cenários que apresenta. A distribuição do som, que explode em todas as suas caixas com um sincronismo visual impecável, é um espetáculo a ser imitado. O acidente com Dylan O’Brien, que vive o protagonista Thomas, deve ter dado mais tempo para que os produtores caprichassem no trabalho da pós.
Muito do sucesso de Maze Runner vem da diversidade que possui, tanto em sua história quanto em seu elenco. Para quem assiste séries, ficar a impressão de que Maze Runner reúne Teen Wolf, Skins, Breaking Bad e Game of Thrones em um conceito apocalÃptico que é uma mescla de The Walking Dead em uma fuga constante como a vista em Prison Break. Mas a série não se faz só em cima de rostinhos bonitos e atores multi-étnicos de séries consagradas; ela retrata o impulso da humanidade para a segregação, expondo de forma mais “poética” a intensidade com que o caos se instala quando alguém tem que ser sacrificado pelo bem de outros.
'Maze Runner', apesar de bom, tem tudo para cair no esquecimento em alguns anos. Lamentável, assumo. Uma série tão boa, com a qualidade que tem, merecia mais do que um 3D descartável e a lembrança de ser só mais uma dentre tantas outras. É melhor lembrar desse terceiro ato como uma despedida honrosa, bem coreografada e dona de uma das melhores cenas de elevador do cinema contemporâneo. Recomendo ver em IMAX, e rever os dois anteriores antes da sessão. Que a correria permaneça, então!
Vale Ver !
DIREÇÃO
- Wes Ball
EQUIPE TÉCNICA
Roteiro: James Dashner, T.S. Nowlin
Produção: Ellen Goldsmith-Vein, Lee Stollman, Wyck Godfrey
Fotografia: Gyula Pados
Trilha Sonora: John Paesano
Estúdio: Gotham Group, Temple Hill Entertainment, Twentieth Century Fox Film Corporation
Montador: Dan Zimmerman, Paul Harb
Distribuidora: fox filmes
ELENCO
Aidan Gillen, Barry Pepper, Dexter Darden, Dylan O'Brien, Giancarlo Esposito, Jacob Lofland, Katherine McNamara, Kaya Scodelario, Ki Hong Lee, Nathalie Emmanuel, Patricia Clarkson, Rosa Salazar, Thomas Brodie-Sangster, Walton Goggins
Deixe seu Comentário: