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PiTacO do PapO - 'O Jovem Karl Marx' | 2017

NOTA 7.5

Por Bruno Santos


Do mesmo diretor de “Eu não sou seu negro”, o haitiano Raoul Peck, 'O Jovem Karl Marx' é uma superprodução que não deve nada aos estúdios de Hollywood. Justamente isso tem sido alvo de críticas entre especialistas mundo a fora, e também no Brasil. O diretor escolheu o formato clichê do cinema norte-americano para falar sobre a obra do pai do comunismo. Aclamado pelo público e pela crítica em diversos festivais europeus, certamente a escolha não foi um descuido. Raoul Peck leva à telona, com ares despretensiosos, toda a potência da obra de Marx. A sensação que se tem, ao sair do cinema, é de que devemos imediatamente rever – ou descobrir – todo o legado marxista porque a luta de classes pulsa atualmente tanto quanto em 1848, quando o Manifesto Comunista foi lançado.



O filme foca nos primeiros anos da vida adulta de Marx e a amizade dele com Friedrich Engels. Apesar do abismo social que os separavam, o desejo por um mundo mais justo e um porre homérico uniu os dois intelectuais que se admiravam antes de se conhecer pessoalmente. Marx era jornalista e – como nos dias de hoje – raramente recebia seus freelas em dia, justamente por isso vivia com a corda sempre no pescoço ao lado de sua esposa Jenny von Westphalen, uma aristocrata alemã que abandonou o berço de ouro. Já Engels, é retratado no filme como um playboy que sabe pouco, quase nada, sobre os problemas do mundo fora do conforto de seu círculo social, mas questiona o tratamento dado por seu pai aos funcionários das fábricas de tecido que a família possui. Em um destes episódios, se encanta pela firmeza de Mary, uma funcionária que encara o patrão em defesa de mínimos direitos trabalhistas. É ao entrar de cabeça no submundo dos empregados que absorve subsídios para iniciar seus ensaios sociais, a contragosto do pai, obviamente.

Raoul Peck parece fazer questão de destacar a importância destas duas mulheres para a obra que nasceria da união de Marx e Engels. Tanto Jenny como Mary Burns são figuras que participam ativamente da vida política de seus maridos. Elas não só frequentam reuniões como opinam e até ajudam a transcrever os textos dos dois. Ambas tiveram papel fundamental no processo de produção do Manifesto Comunista, por exemplo. Crise na Inglaterra, disputas de poder entre a esquerda, as diversas correntes de pensamento da época, os intelectuais de destaque, bares, cafés, a boemia londrina, tudo isso está muito bem retratado na obra de Peck. O diretor mostra a efervescência política de onde surgiu o maior pensador comunista dos séculos 19 e 20. E mais que isso, deixa claro porque foi esta corrente ideológica que “venceu” diante das demais e como o movimento comunista se consolidou.

O retrato de época dialoga perfeitamente com os dias de hoje. Nos mostra que a obra de Marx está viva, atualíssima e pode dar respostas à crise política e humanitária do século 21. Hoje outro espectro ronda a Europa, não o do comunismo, infelizmente. Cabe à nossa geração mergulhar no legado marxista e só voltar à superfície com novos caminhos traçados para as batalhas atuais. A luta de classes pulsa diante de nossos olhos num mundo que permite a livre circulação de dinheiro, de produtos, mas não de pessoas. Neste contexto onde a desvalorização do trabalho e o ataque aos direitos conquistados assola diversos países, o grito “trabalhadores, uni-vos” faz mais sentido que nunca.

Vale Ver ! 


DIREÇÃO
Raoul Peck

EQUIPE TÉCNICA
Roteiro: Pascal Bonitzer, Raoul Peck
Produção: Nicolas Blanc, Raoul Peck, Rémi Grellety, Robert Guédiguian
Fotografia: Kolja Brandt
Trilha Sonora: Alexei Aigui
Estúdio: Agat Films & Cie, Velvet Film
Montador: Frédérique Broos
Distribuidora: Califórnia Filmes

ELENCO

Alexander Scheer, Annabelle Lewiston, Aran Bertetto, August Diehl, Damien Marchal, Denis Lyons, Elsa Mollien, Eric Godon, Hannah Steele, Hans-Uwe Bauer, Inga R. Kammerer, Ivan Franek, Jürgen Rißmann, Marie Meinzenbach, Michael Brandner, Niels-Bruno Schmidt, Nikita Khrushchev, Olivier Gourmet, Pascal Lalo, Peter Benedict, Rolf Kanies, Stefan Konarske, Stephen Hogan, Torsten Ranft, Ulrich Brandhoff, Vicky Krieps, Wiebke Adam

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