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PiTacO do PapO - 'The Square: A Arte da Discórdia' | 2018

NOTA  9.0

Por Rogério Machado


Violento, provocador, terno, politicamente correto (ou incorreto)... tudo isso ao mesmo tempo. Dá pra colocar numa mesma caixa adjetivos tão diferentes e conflitantes?  É certo que sim, pois o sueco 'The Square:  A Arte da Discórdia',  grande vencedor da Palma de Ouro em Cannes, indicado ao Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro e provável indicado na lista final do Oscar na mesma categoria, tem todos esses ingredientes para confrontar o público de diversas formas - a começar pela arrogância e a falsa moral que ronda os quarterões da humanidade, e isso tudo tendo como ambiente principal o pomposo metiê da arte europeia. 



Na trama, Claes Bang é Christian, um respeitado curador de um museu de arte contemporânea em Estocolmo; homem divorciado e bom pai das suas duas filhas, conduz um carro de último modelo e apoia boas causas. A sua próxima exposição, 'The Square' , é uma instalação que pretende evocar o altruísmo em quem a vê, recordando-nos o nosso papel enquanto seres humanos responsáveis uns pelos outros. Mas às vezes é difícil viver à altura dos nossos ideais: a resposta incauta de Christian ao roubo do seu telefone vai conduzi-lo a situações das quais ele haveria de se envergonhar. 

O longa do diretor Ruben Östlund (do elogiado 'Força Maior' - 2015) é um soco no estômago, mas que segue algumas etiquetas que propositalmente se afinam com o roteiro, deixando o tom ainda mais cínico e ultrajante. A história traça um paralelo entre a vida particular de Christian e sua trajetória dentro do museu: enquanto em sua vida pessoal ele se mostra mesquinho e omisso, no seu trabalho como curador chefe em meio à essa nova mostra, cuja lição da obra proposta chamada de 'Quadrado' (ou Caixa) é ser mais humano para com o próximo, é justamente o que ele nunca foi....Que ironia! A consciência da obra é motivar o amor recíproco , o respeito e o cuidado mútuo, porém no episódio do roubo do celular fica implícito toda inconsequência e brutalidade que são atribuídas à animais irracionais. 

A crítica ao modo de viver da humanidade se faz mais feroz no terceiro ato, quando no lançamento da mostra, tanto o vídeo de divulgação, como a dinâmica promovida num luxuoso jantar saem dos limites toleráveis e nos fazem perceber que o mundo ainda é o mesmo, que a humanidade ainda está na era paleozoica - para ilustrar esse momento, entra em cena o ator Terry Notary que reproduz magistralmente em sua performance um gorila (ou macaco).  A figura do primata também se faz presente num encontro casual entre Christian e Anne (Elizabeth Moss) em uma cena cheia de surrealismo e também, claro, muita ironia.

A obra de Östlund coloca a arte em confronto com a leviandade do ser humano: enquanto a arte é subjetiva e inspiradora, a vida real pode ser áspera e cheia de intolerância. Aliás, intolerância é a palavra de ordem hoje no país, e numa triste coincidência, o filme acaba se chocando com as notícias envolvendo o conceito de arte no Brasil.  Por essas e outras 'The Square' acaba se tornando um discurso oportuno e urgente. 

Que um dia, queira Deus, dias melhores venham, e como já dizia aquela canção do Jota Quest, sejamos melhores em tudo.

Super Vale Ver! 


DIREÇÃO
Ruben Östlund

EQUIPE TÉCNICA
Roteiro: Ruben Östlund
Produção: Erik Hemmendorff, Philippe Bober
Fotografia: Fredrik Wenzel
Estúdio: arte France Cinéma, Plattform Produktion
Montador: Jacob Secher Schulsinger, Ruben Östlund
Distribuidora: Pandora Filmes

ELENCO

Annica Liljeblad, Bo Melin, Christopher Læssø, Claes Bang, Daniel Hallberg, Daniel Kristiansson, Dominic West, Elijandro Edouard, Elisabeth Moss, Emelie Beckius, Iman Mirbioki, Jan Lindwall, Johan Jonason, Kolya Hardy, Lilianne Mardon, Linda Anborg, Marina Schiptjenko, Martin Sööder, Peter Diaz, Sarah Giercksky, Sofie Hamilton, Terry Notary, Uri Levanon


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