PiTacO do PapO - 'O Insulto' | 2018
NOTA 9.5
Por Rogério Machado
A trama de 'O Insulto', indicado ao Oscar de Filme Estrangeiro que estreia oficialmente essa semana no Brasil , poderia ser somente mais uma história de ofensas gratuitas e mágoas como tantas outras, mas, pelo retrospecto polÃtico-social dos paÃses envolvidos nesse 'esbarrão mirabolante do destino', o drama se torna uma grande guerra onde dificilmente o espectador assumirá um lado - essa é uma das grandes sacadas do filme que tem a direção de Ziad Doueiri e roteiro em parceria com Joëlle Touma, sua esposa.
A trama de 'O Insulto', indicado ao Oscar de Filme Estrangeiro que estreia oficialmente essa semana no Brasil , poderia ser somente mais uma história de ofensas gratuitas e mágoas como tantas outras, mas, pelo retrospecto polÃtico-social dos paÃses envolvidos nesse 'esbarrão mirabolante do destino', o drama se torna uma grande guerra onde dificilmente o espectador assumirá um lado - essa é uma das grandes sacadas do filme que tem a direção de Ziad Doueiri e roteiro em parceria com Joëlle Touma, sua esposa.
A história se passa em Beirute, mais precisamente num bairro de classe baixa onde a prefeitura trabalha em umas obras de melhorias para angariar alguns votos a mais nas eleições vindouras. É quando numa discussão por um motivo aparentemente bobo, um morador, Toni, (Adel Karam), um cristão libanês, que se sente insultado por Yasser (Kamel Ek Basha), (um refugiado palestino que trabalha nessas obras) , exige uma retratação, mas como ela não acontece, ele se vê obrigado à levá-lo para um tribunal. De feridas secretas a revelações traumáticas, o circo midiático que envolve o caso divide o LÃbano em uma crise social, forçando Toni e Yasser a reconsiderarem não só suas vidas como também seus preconceitos.
Todos sabemos das crises e guerras que assolam o Oriente Médio, e essa batalha (que independente da aparente paz, ainda acontece dentro de cada palestino e libanês) tomará proporções indescritÃveis fomentadas por motivos sem nenhuma substância - tudo fruto de um legado de tristeza e morte. É importante dizer que estamos também dentro de uma cultura conservadora, onde dependendo do que é dito ou feito, principalmente quando envolve religião e costumes, pode gerar uma reação em cadeia que afetará não só o indivÃduo que se considera atingido, como também todo um povo. A situação é melindrosa, pois além de toda essa luta de egos, existem as esposas que parecem não ser ouvidas em momento algum pelos maridos, e para piorar, Shirine (Rita Hayek), esposa de Toni, está grávida, e um incidente com a gestante acaba tocando fogo nessa fogueira de vaidades que servirá também de munição no tribunal.
O tribunal, por sua vez, é a cereja do bolo de 'O Insulto'. É onde tudo realmente acontece, o olho do furacão, cujas chamas são atiçadas pelos advogados de defesa e acusação, brilhantemente interpretados por Camille Salameh e Diamand Bou Abboud. A dinâmica do tribunal, pelo menos como é apresentada no filme, é um pouco diferente das que conhecemos: lá , a defesa interrompe a acusação e vice-versa - essa metódica provoca um verdadeiro debate diante do juiz, que ainda é inflamado por conta da plateia presente, o que acaba fazendo com que nós, cá do outro lado da tela, não desgrudemos o olhar - os diálogos são afiados e os argumentos dos advogados cada vez mais contundentes , gerando ainda mais conflito entre os presentes no tribunal e os envolvidos no impasse.
Mesmo com toda tensão envolta nesse drama cheio de conflitos, Doueiri, consegue arrancar risadas do público: em certos momentos, chega a ser vexatória a maneira como os personagens em geral se posicionam em algumas circunstâncias - o que parece ser propositalmente pensado como alÃvio cômico, ou como se o próprio diretor quisesse nas entrelinhas nos dizer o quão patética era toda aquela situação. A indicação ao Oscar tem pertinência, e digo mais, o filme é desde agora meu favorito na premiação, muito embora não creia que seja laureado na grande noite do cinema mundial.
Todos sabemos das crises e guerras que assolam o Oriente Médio, e essa batalha (que independente da aparente paz, ainda acontece dentro de cada palestino e libanês) tomará proporções indescritÃveis fomentadas por motivos sem nenhuma substância - tudo fruto de um legado de tristeza e morte. É importante dizer que estamos também dentro de uma cultura conservadora, onde dependendo do que é dito ou feito, principalmente quando envolve religião e costumes, pode gerar uma reação em cadeia que afetará não só o indivÃduo que se considera atingido, como também todo um povo. A situação é melindrosa, pois além de toda essa luta de egos, existem as esposas que parecem não ser ouvidas em momento algum pelos maridos, e para piorar, Shirine (Rita Hayek), esposa de Toni, está grávida, e um incidente com a gestante acaba tocando fogo nessa fogueira de vaidades que servirá também de munição no tribunal.
O tribunal, por sua vez, é a cereja do bolo de 'O Insulto'. É onde tudo realmente acontece, o olho do furacão, cujas chamas são atiçadas pelos advogados de defesa e acusação, brilhantemente interpretados por Camille Salameh e Diamand Bou Abboud. A dinâmica do tribunal, pelo menos como é apresentada no filme, é um pouco diferente das que conhecemos: lá , a defesa interrompe a acusação e vice-versa - essa metódica provoca um verdadeiro debate diante do juiz, que ainda é inflamado por conta da plateia presente, o que acaba fazendo com que nós, cá do outro lado da tela, não desgrudemos o olhar - os diálogos são afiados e os argumentos dos advogados cada vez mais contundentes , gerando ainda mais conflito entre os presentes no tribunal e os envolvidos no impasse.
Mesmo com toda tensão envolta nesse drama cheio de conflitos, Doueiri, consegue arrancar risadas do público: em certos momentos, chega a ser vexatória a maneira como os personagens em geral se posicionam em algumas circunstâncias - o que parece ser propositalmente pensado como alÃvio cômico, ou como se o próprio diretor quisesse nas entrelinhas nos dizer o quão patética era toda aquela situação. A indicação ao Oscar tem pertinência, e digo mais, o filme é desde agora meu favorito na premiação, muito embora não creia que seja laureado na grande noite do cinema mundial.
Super Vale Ver !
DIREÇÃO
- Ziad Doueiri
EQUIPE TÉCNICA
Roteiro: Joelle Touma, Ziad Doueiri
Produção: Antoun Sehnaoui, Jean Bréhat, Julie Gayet, Nadia Turincev, Rachid Bouchareb
Fotografia: Tommaso Fiorilli
Trilha Sonora: Eric Neveux
Estúdio: Ezekiel Films, Rouge International, Tessalit Productions
Montador: Dominique Marcombe
Distribuidora: Imovision
ELENCO
Adel Karam, Camille Salameh, Carlos Chahine, Christina Farah, Christine Choueiri, Diamand Bou Abboud, Elie Njeim, Georges Daoud, Julia Kassar, Kamel El Bacha, Rifaat Torbey, Rita Hayek, Talal Jurdi
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