PiTacO do PapO - 'Os Iniciados' | 2018
NOTA 8.5
Por Rogério Machado
'Moonlight' (2017), o vencedor do Oscar do ano passado, nos mostrou de maneira delicada e até lírica o universo de quem nasce negro, pobre e gay numa região ensolarada dos E.U.A. Em 'Os Iniciados', filme sul africano que foi o representante da África para tentar uma vaga no Oscar 2018, veremos elementos misturando homofobia e etnia mas de forma diferente: a cultura machista arraigada às tradições milenares de um povo, ou parte dele, que nem sequer deve saber o significado da palavra preconceito, não à ponto de marginalizá-la em função daqueles que vivem na pele a hostilidade, que aqui , por razões naturais, é negra.
A história se passa em Cabo Oriental na África do Sul. É onde conheceremos o jovem Xolani (Nakhane Touré), um operário solitário, que viaja para as montanhas rurais com os homens de sua comunidade com intuito de atuar nos rituais de Ulwaluko, que consiste na circuncisão de adolescentes de origem Xhosa para que eles ingressem finalmente na vida adulta, tornando-se homens. Xolani assume a responsabilidade sobre um garoto da cidade, Kwanda (Niza Jay Ncoyini), que o pai teme ser homossexual e, quando o iniciante questionador descobre seu segredo mais escondido, o operário, à partir daquele instante , seria vez por outra confrontado com a negação do seu eu pelo jovem rapaz.
A tradição, por diversas vezes e em muitos povos, pode ser tornar a maior inimiga da liberdade para cada um viver a vida como deseja viver, e o longa deixa clara essa mensagem que perambula em diversas produções, principalmente no cinema fora do eixo habitual, que se torna uma válvula de escape e um canal de protesto ao se colocar como via questionadora para culturas ou tradições : como o grupo étnico Xhosi, (um dos mais numerosos e importantes na formação da África Austral. Figuras públicas como Nelson Mandela, Thabo Mbeki e Desmond Tutu pertenciam a tal linhagem), que consistia nesse ritual de passagem da adolescência para a vida adulta, tendo em vista a formação do homem procriador, viril e macho (no sentido mais primitivo da palavra).
Se no já citado 'Moonlight' a abordagem do tema é mais suave, aqui ela é direta, sem meandros e coloca iniciado e cuidador (ou instrutor, como na tradução literal) frente à frente com seus posicionamentos: o iniciado vem de Joanesburgo para o ritual, tem uma boa estrutura familiar e conforto, e até por ser mais novo, é liberto de medos e dúvidas sobre o que sente, já Xolani é pobre, abandonou tudo para cumprir ano a ano esse rito, somente para se reencontrar com o grande amor de sua vida, Vija (Bongile Mantsai), que é casado, tem filhos e esconde sua realidade - isso à princípio é aceito por Xolani, mas ao ser confrontado por seu iniciado, as estruturas se abalam e acabam causando um efeito dominó sem precedentes.
Infelizmente, além das estruturas que habitualmente enquadram os padrões de gênero, notam-se inúmeros e frequentes casos de pais que impõem violentamente a seus filhos normas de comportamento masculino para que se tornem “homens de verdade”. Longe de ser um problema apenas da África do Sul, precisamos mesmo é olhar para essa questão no Brasil com seus índices alarmantes de machismo e de LGBTfobia.
Vale Ver !
Por Rogério Machado
'Moonlight' (2017), o vencedor do Oscar do ano passado, nos mostrou de maneira delicada e até lírica o universo de quem nasce negro, pobre e gay numa região ensolarada dos E.U.A. Em 'Os Iniciados', filme sul africano que foi o representante da África para tentar uma vaga no Oscar 2018, veremos elementos misturando homofobia e etnia mas de forma diferente: a cultura machista arraigada às tradições milenares de um povo, ou parte dele, que nem sequer deve saber o significado da palavra preconceito, não à ponto de marginalizá-la em função daqueles que vivem na pele a hostilidade, que aqui , por razões naturais, é negra.
A história se passa em Cabo Oriental na África do Sul. É onde conheceremos o jovem Xolani (Nakhane Touré), um operário solitário, que viaja para as montanhas rurais com os homens de sua comunidade com intuito de atuar nos rituais de Ulwaluko, que consiste na circuncisão de adolescentes de origem Xhosa para que eles ingressem finalmente na vida adulta, tornando-se homens. Xolani assume a responsabilidade sobre um garoto da cidade, Kwanda (Niza Jay Ncoyini), que o pai teme ser homossexual e, quando o iniciante questionador descobre seu segredo mais escondido, o operário, à partir daquele instante , seria vez por outra confrontado com a negação do seu eu pelo jovem rapaz.
A tradição, por diversas vezes e em muitos povos, pode ser tornar a maior inimiga da liberdade para cada um viver a vida como deseja viver, e o longa deixa clara essa mensagem que perambula em diversas produções, principalmente no cinema fora do eixo habitual, que se torna uma válvula de escape e um canal de protesto ao se colocar como via questionadora para culturas ou tradições : como o grupo étnico Xhosi, (um dos mais numerosos e importantes na formação da África Austral. Figuras públicas como Nelson Mandela, Thabo Mbeki e Desmond Tutu pertenciam a tal linhagem), que consistia nesse ritual de passagem da adolescência para a vida adulta, tendo em vista a formação do homem procriador, viril e macho (no sentido mais primitivo da palavra).
Se no já citado 'Moonlight' a abordagem do tema é mais suave, aqui ela é direta, sem meandros e coloca iniciado e cuidador (ou instrutor, como na tradução literal) frente à frente com seus posicionamentos: o iniciado vem de Joanesburgo para o ritual, tem uma boa estrutura familiar e conforto, e até por ser mais novo, é liberto de medos e dúvidas sobre o que sente, já Xolani é pobre, abandonou tudo para cumprir ano a ano esse rito, somente para se reencontrar com o grande amor de sua vida, Vija (Bongile Mantsai), que é casado, tem filhos e esconde sua realidade - isso à princípio é aceito por Xolani, mas ao ser confrontado por seu iniciado, as estruturas se abalam e acabam causando um efeito dominó sem precedentes.
Infelizmente, além das estruturas que habitualmente enquadram os padrões de gênero, notam-se inúmeros e frequentes casos de pais que impõem violentamente a seus filhos normas de comportamento masculino para que se tornem “homens de verdade”. Longe de ser um problema apenas da África do Sul, precisamos mesmo é olhar para essa questão no Brasil com seus índices alarmantes de machismo e de LGBTfobia.
Vale Ver !
DIREÇÃO
- John Trengove
EQUIPE TÉCNICA
Roteiro: John Trengove, Malusi Bengu, Thando Mgqolozana
Produção: Cait Pansegrouw, Elias Ribeiro
Fotografia: Paul Ozgur
Trilha Sonora: João Orecchia
Estúdio: Urucu Media
Montador: Matthew Swanepoel
Distribuidora: Zeta Filmes
ELENCO
Bongile Mantsai, Gamelihle Bovana, Halalisani Bradley Cebekhulu, Inga Qwede, Nakhane Touré, Niza Jay Ncoyini, Sibabalwe Ngqayana, Siphosethu Ngcetane, Thobani Mseleni
Deixe seu Comentário: