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PiTacO do PapO - 'Reino de Deus' | 2017

NOTA 9.0

Por Rogério Machado


Há de se convir que é cada vez mais animador ver um gênero (se é que podemos chamar de gênero) alçar vôos mais altos - Não girar em torno de si mesmo ou de seus dramas costumeiros para procurar, também em si, novos significados e mensagens.  Assim é 'God's Own Contry'  - que por aqui recebeu o nome de 'Reino de Deus' - é um dos exemplos que estão no nicho LGBT mas que não se atém ao discurso do gênero: se desconstrói para ir além de uma história entre iguais. O longa, aclamado pela crítica, foi destaque no Festival do Rio, recebeu o prêmio de Direção no Festival de Sundance, Prêmio do Público no Frameline , Melhor Diretor Estreante no Toronto Inside Out 2, além de fazer parte da Seleção oficial do Festival de Berlim 2017.



No drama, conheceremos o jovem de jeito arredio Johnny (Josh O'Connor), que tem 25 anos e cuida da fazenda de sua família em Yorkshire, Inglaterra. Ele abriu mão da universidade ou de um emprego para trabalhar para seu pai, Martin (Ian Hart) , e sua avó, Deirdre (Gemma Jones). À noite, ele afoga suas frustrações em bebedeiras e sexo casual com outros homens. Quando Martin, que não pode mais ajudar o filho por conta de um derrame, decide contratar o imigrante romeno Gheorghe (Alec Secareanu) para ajudar o filho na fazenda, Johnny se ressente por acreditar que consegue dar conta de tudo sozinho. Mas logo seu novo companheiro irá mostrar que entende do trabalho rural e, sobretudo, de suas angústias e desejos.

Estreando na direção de longas, o britânico Francis Lee conseguiu o grande feito de falar do sentimento de dois homens, mas sem deixar a mensagem central de lado: Johnny era um rapaz que foi abandonado pela mãe e que tem um relacionamento distante com seu pai e a avô que o criou. Essa distância, gerou uma repulsa(ou quem sabe vergonha) em demonstrar sentimentos. Os relacionamentos do rapaz se resumiam em sexo rápido em banheiros de bares sem o menor envolvimento afetivo. Johnny era um corpo sem um coração. E é aí que entra o personagem Gheorghe, que aos poucos foi ensinando o rapaz que o encontro de dois corpos ia muito além da carne. Através de cenas esteticamente muito bem construídas, vamos percebendo o resgate (ou redescoberta) dos sentidos e sentimentos de Johnny através do carinho dado à ele pelo recém chegado. Até então, talvez ele não soubesse o que significava esse palavra. 

Muito embora o filme esbarre em algumas referências, ambientação e situações parecidas  com o mais famoso dos exemplos em filmes LGBT, 'O Segredo de Brokeback Mountain' (2005), a história de Francis Lee respira novidade justamente por colocar no centro de tudo, o resgate do amor e unidade de uma família e não o relacionamento de Johnny e Gheorghe - que acaba sim sendo um canal pra a mensagem central, mas não o foco do assunto. Num lugar onde o preconceito está impregnado, a escolha da direção foi tratar com naturalidade o tema para então valorizar algo muito maior do que simplesmente a escolha de quem se ama.


Super Vale Ver !


DIREÇÃO

  • Francis Lee

EQUIPE TÉCNICA

Roteiro: Francis Lee
Produção: Manon Ardisson, Jack Tarling
Fotografia: Joshua James Richards
Montador: Chris Wyatt
Música: Dustin O'Halloran, Adam Wiltzie

ELENCO

Josh O'Connor, Gemma Jones, Harry Lister Smith, Ian Hart, Alec Secareanu,Melanie Kilburn, Liam Thomas, Patsy Ferran, Moey Hassan, Naveed Choudhry, Sarah White, John McCrea, Alexander Suvandjiev,Stefan Dermendjiev

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