PiTacO do PapO - 'A Maldição da Casa Winchester' | 2018
NOTA 7.0
Por Vinícius Martins @cinemarcante
Filmes de terror raramente apresentam um diferencial bom o bastante para se tornar referência. James Wan, por exemplo, conseguiu emplacar no gênero por investir mais em boas histórias do que em sustos gratuitos. Porém, o terror pede algo assustador, arrepiante, que cause pavor e, se possível, medo. Os espectadores pagam o ingresso para viver essas emoções, e saem frustrados do cinema quando suas expectativas não são atendidas. E no meio do caminho entre os filmes de susto e os bem escritos, figura ‘A Maldição da Casa Winchester’, terror promissor que não é nem um nem outro, e que traz Hellen Mirren como a viúva que dá nome ao filme, e que é inspirado num episódio real.
Jason Clarke vive o doutor Eric Price, também viúvo, que morreu e voltou a viver três minutos após ser baleado. Mirren é o contraponto, em uma personagem quase arrogante dada a lucidez e perspicácia com que é retratada. Se de um lado temos um doutor castigado pelo passado, que tem alucinações devido ao uso abusivo de medicamentos, e do outro temos uma velha senhora tida como louca e que diz ter contato com espíritos e se empenha em fazer suas vontades, então espera-se que o filme apresente algum belo dilema entre os dois. Seria nesse ponto que entraria a inversão sobre quem deveria ser a voz da razão e quem deveria ter sua sanidade contestada; só que o espectador é colocado em meio à uma sucessão de sustos, intercalados por alguns poucos momentos de tensão onde o medo vem de fato da contemplação do horrível, e percebe-se que quem dizia saber tudo na verdade não sabia de nada, e quem era tida como louca estava protegida pelo manto da coerência. Só que o filme faz isso sem se demorar em suspense ou instigar a mente de quem está assistindo, entregando as informações sem se preocupar em escondê-las para gerar a dúvida. Essa visão, sozinha, já poderia render um excelente jogo de perspectivas, mas isso acaba não se desenvolvendo muito bem e entrega o final que prometeu desde o começo: um embate básico de contestação sobre em que acreditar.
Fica quase ridículo ver o personagem de Clarke negar veementemente a presença dos espíritos na casa sendo que a cada cinco minutos um aparece e dá um susto nele. Sua transformação em homem crente se faz aos traços de um roteiro meio preguiçoso, que poderia ter desenvolvido melhor a percepção de seu protagonista de modo a deixá-lo menos pateta perante o cenário à sua frente. Quem resolve as coisas, e que parecia saber de tudo desde o começo, é justamente a pessoa que carrega o glamour do filme nas costas. A única personagem que dá gosto de ver na tela é Sarah Winchester (Mirren), e é doloroso ver alguém tão talentoso quanto Jason Clarke se tornar coadjuvante no filme em que é o protagonista.
Apesar disso, o filme tem bons momentos (tirando aqueles clichês em que todo mundo fala “não vai não, topeira, você vai ganhar o quê seguindo o brinquedo ou descendo por essa escada escura até o porão?”), onde é possível sentir o frio que toma a cena quando todas as velas se apagam simultaneamente. O design é deslumbrante e a ideia se mostra de fato muito atraente. Contudo, se você for dessas pessoas que tratam os filmes apenas como bons argumentos para comprar pipoca sem sentir culpa ao ver a balança, vá ver outro. Filme por filme, vá rever 'Pantera Negra', que te fará pensar e é um entretenimento muito melhor.
‘A Maldição da Casa Winchester’ é mesmo assim tão ruim? Não. Mas isso não quer dizer que não deveria ser melhor. As maiores frustrações, amigos, vem de onde depositamos nossas maiores expectativas.
Vale Ver !
Por Vinícius Martins @cinemarcante
Filmes de terror raramente apresentam um diferencial bom o bastante para se tornar referência. James Wan, por exemplo, conseguiu emplacar no gênero por investir mais em boas histórias do que em sustos gratuitos. Porém, o terror pede algo assustador, arrepiante, que cause pavor e, se possível, medo. Os espectadores pagam o ingresso para viver essas emoções, e saem frustrados do cinema quando suas expectativas não são atendidas. E no meio do caminho entre os filmes de susto e os bem escritos, figura ‘A Maldição da Casa Winchester’, terror promissor que não é nem um nem outro, e que traz Hellen Mirren como a viúva que dá nome ao filme, e que é inspirado num episódio real.
Jason Clarke vive o doutor Eric Price, também viúvo, que morreu e voltou a viver três minutos após ser baleado. Mirren é o contraponto, em uma personagem quase arrogante dada a lucidez e perspicácia com que é retratada. Se de um lado temos um doutor castigado pelo passado, que tem alucinações devido ao uso abusivo de medicamentos, e do outro temos uma velha senhora tida como louca e que diz ter contato com espíritos e se empenha em fazer suas vontades, então espera-se que o filme apresente algum belo dilema entre os dois. Seria nesse ponto que entraria a inversão sobre quem deveria ser a voz da razão e quem deveria ter sua sanidade contestada; só que o espectador é colocado em meio à uma sucessão de sustos, intercalados por alguns poucos momentos de tensão onde o medo vem de fato da contemplação do horrível, e percebe-se que quem dizia saber tudo na verdade não sabia de nada, e quem era tida como louca estava protegida pelo manto da coerência. Só que o filme faz isso sem se demorar em suspense ou instigar a mente de quem está assistindo, entregando as informações sem se preocupar em escondê-las para gerar a dúvida. Essa visão, sozinha, já poderia render um excelente jogo de perspectivas, mas isso acaba não se desenvolvendo muito bem e entrega o final que prometeu desde o começo: um embate básico de contestação sobre em que acreditar.
Fica quase ridículo ver o personagem de Clarke negar veementemente a presença dos espíritos na casa sendo que a cada cinco minutos um aparece e dá um susto nele. Sua transformação em homem crente se faz aos traços de um roteiro meio preguiçoso, que poderia ter desenvolvido melhor a percepção de seu protagonista de modo a deixá-lo menos pateta perante o cenário à sua frente. Quem resolve as coisas, e que parecia saber de tudo desde o começo, é justamente a pessoa que carrega o glamour do filme nas costas. A única personagem que dá gosto de ver na tela é Sarah Winchester (Mirren), e é doloroso ver alguém tão talentoso quanto Jason Clarke se tornar coadjuvante no filme em que é o protagonista.
Apesar disso, o filme tem bons momentos (tirando aqueles clichês em que todo mundo fala “não vai não, topeira, você vai ganhar o quê seguindo o brinquedo ou descendo por essa escada escura até o porão?”), onde é possível sentir o frio que toma a cena quando todas as velas se apagam simultaneamente. O design é deslumbrante e a ideia se mostra de fato muito atraente. Contudo, se você for dessas pessoas que tratam os filmes apenas como bons argumentos para comprar pipoca sem sentir culpa ao ver a balança, vá ver outro. Filme por filme, vá rever 'Pantera Negra', que te fará pensar e é um entretenimento muito melhor.
‘A Maldição da Casa Winchester’ é mesmo assim tão ruim? Não. Mas isso não quer dizer que não deveria ser melhor. As maiores frustrações, amigos, vem de onde depositamos nossas maiores expectativas.
Vale Ver !
DIREÇÃO
- Michael Spierig, Peter Spierig
EQUIPE TÉCNICA
Roteiro: Michael Spierig, Peter Spierig, Tom Vaughan
Produção: Brett Tomberlin, Tim McGahan
Fotografia: Ben Nott
Trilha Sonora: Peter Spierig
Estúdio: Blacklab Entertainment, Imagination Design Works
Montador: Matt Villa
Distribuidora: Paris Filmes
ELENCO
Adam Bowes, Alana Fagan, Alice Chaston, Andy de Lore, Angus Sampson, Bruce Spence, Chris Anderson, Curtis Bock, Eamon Farren, Emm Wiseman, Finn Scicluna-O'Prey, Graham Jahne, Hayden Stewart, Helen Mirren, Jason Clarke, Jayden Irving, Laura Brent, Michael Carman, Phoenix Suhrou-Dimarco, Puven Pather, Rebecca Makar, Sarah Snook, Tom Heath, Tyler Coppin
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