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PiTacO do PapO - 'O Passageiro' | 2018

NOTA 9.2

Quando o previsível é cativante...

Por Vinícius Martins @cinemarcante 


Jaume Collet-Serra é um dos meus diretores favoritos. Dar uma nota alta para qualquer um de seus filmes é fácil e justo, pois o diretor francês tem uma noção excepcional de coordenação e desenvolvimento de cena. Tanto é que, junto com o astro Liam Neeson, ele entregou o melhor filme de ação de 2015: ‘Noite Sem Fim’, uma obra sobre gangues e rivalidades entre velhos amigos, que coloca 'Mad Max: Estrada da Fúria’ no chinelo. E agora, três anos depois, Collet-Serra e Neeson retornam à parceria de excelência que já foi perpetuada também em 'Desconhecido’ (2011) e 'Sem Escalas’ (2014) em um longa que lembra, inicialmente, a trama vivida por Neeson no avião ao lado de Julianne Moore. Entretanto, como Serra não é um diretor repetitivo em abordagem, a trama ganha um novo corpo e rumos bem diferentes.

Em questões gerais, o novo longa se equipara em alguns pontos com 'Sem Escalas’. Mais uma vez, Neeson é um homem que é pego - em meio a uma deriva emocional - por um contratempo que o obriga a encontrar algum indivíduo camuflado no meio da multidão, em um meio de locomoção muito rápido durante uma viagem na qual ele está habituado a fazer. Mas se em 'Sem Escalas’ ele era o sujeito de conduta questionável, aqui ele é o exemplo a ser seguido. Homem de família, responsável, que assume dívidas em prol do crescimento do lar e do filho. Casado, que ama a esposa e a respeita mesmo em meio aos altos e baixos da rotina do casal - rotina essa que é muito bem exposta na introdução do filme, com uma apresentação linearmente destoante entre humores e estações do ano, e também com closes constantes na mão esquerda do herói, onde a aliança dourada grita para ser vista. Toda a construção da vida regular foi feita de forma calculada, para mostrar ao espectador o principal fator da vida do protagonista: todos os dias ele pegava o mesmo trem.


É nesse momento que, para alguns, o filme deve perder o mistério. Em filmes assim, a reviravolta vem sempre de onde menos se espera (principalmente nos filmes de Collet-Serra), de um jeito que o plot-twist se torna evidente mediante a reafirmação ou persistência de algum determinado personagem. Desse modo, O que torna ‘O Passageiro’ um filme tão bom?

A resposta é simples: sua metodologia de linguagem. A história, por mais previsível que seja em alguns aspectos, é funcional graças a boa condução de Collet-Serra, e essa característica da direção dele, em especial, mostra sua capacidade de dinamizar um roteiro que, desde o começo, deixa evidente os rumos que tomará. Assumo que parte da previsibilidade se dá a uma campanha de marketing meio cretina, que entrega o desfecho do que acontece com a condução (como ocorreu no trailer de 'Sem Escalas’) semanas antes sequer do lançamento do filme, mas mesmo indo assistir ao filme sabendo o terceiro ato e até esperando as cenas mostradas no trailer, é inevitável não se prender à poltrona.

'O Passageiro’ é como a obra-prima 'Avatar’, de James Cameron. O enredo já foi visto diversas vezes, mas a jornada da trama, e principalmente sua maneira de filmar, fazem o filme valer o ingresso.

Tudo é bem filmado e coreografado, de modo a inserir o espectador junto ao protagonista dentro do espaço limitado do trem. As noções de ambientes são excelentes, e um plano sequência em uma luta corporal se faz destacar entre os demais filmes do gênero. A preparação do suspense a cada nova etapa condiz com a fotografia brilhante de Paul Cameron, que colocou o efeito de dolly-zoom com o timing perfeito e usou um recurso especial de foco para os planos dois e três, fazendo-os intercalar entre si sem tirar o foco principal de Neeson no primeiro plano. Cada personagem secundário tem camadas, criando a empatia do público e fazendo com que quem assiste, se importe com as subtramas “irrelevantes” para o andamento do longa. Em outras palavras, Collet-Serra é um cara que dirige bem sua equipe, seu elenco e sua pós produção.

Concluindo, pergunto: esse é o melhor filme de ação de 2018? Respondo eu mesmo: não. O ano ainda está só começando. Mas já é um ótimo trabalho, com performances fascinantes, em um filme de um dos maiores gênios da direção cinematográfica dessa geração.


Super Vale Ver !

DIREÇÃO

  • Jaume Collet-Serra

EQUIPE TÉCNICA

Roteiro: Byron Willinger, Philip de Blasi
Produção: Alex Heineman, Andrew Rona
Fotografia: Paul Cameron
Trilha Sonora: Roque Baños
Estúdio: Nvizage, Ombra Films, StudioCanal
Montador: Nicolas De Toth
Distribuidora: Califórnia Filmes, Imagem Filmes

ELENCO

Adam Nagaitis, Alana Maria, Amy Clare Beales, Andres Austin Bennett, Andy Nyman, Anthony Milton, Bern Collaco, Clara Lago, Colin McFarlane, Damson Idris, David Olawale Ayinde, Dean-Charles Chapman, Dilyana Bouklieva, Elizabeth McGovern, Ella-Rae Smith, Florence Pugh, Georgie-May Tearle, Graham Curry, Jamie Beamish, Jonathan Banks, Killian Scott, Kingsley Ben-Adir, Kobna Holdbrook-Smith, Lae Gutierrez, Lati Gbaja, Lee Asquith-Coe, Lee Nicholas Harris, Letitia Wright, Liam Neeson, Matthew Faucher, Nathan Wiley, Nila Aalia, Patrick Wilson, Pete Buzzsaw Holland, Peter Meyer, Roland Møller, Sam Neill, Shade Rupe, Shazad Latif, Simon Hibbs, Steven I. Dillard, Vera Farmiga, Vikki Edwards, Zaak Conway



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