PiTacO do PapO - 'Além do Homem' - 2018
NOTA 8.5
Por Rogério Machado
'Decifra me ou te devoro..' parece ser mesmo a frase que fica latejando durante os 90 min de 'Além do Homem', filme que chegou essa semana aos cinemas estrelado por Sérgio Guizé. A direção de Willy Biondani, aqui em seu primeiro longa metragem, traça uma viagem pelas linhas da literatura , que passa pelo íntimo de um homem arrogante e chega até o interior do Brasil onde se ouviu falar de um ritual de canibalismo. Mas o longa não é sobre canibalismo, e o 'devoro' da frase que permaneceu na minha mente o filme todo, vai muito além do literal.
O filme conta a história do escritor brasileiro Alberto Luppo (Sergio Guizé), que mora em Paris há muitos anos e não tem vontade de retornar ao país e praticamente renega sua origens. Mas quando o antropólogo francês Marcel Lefavre (Pierre Richard) é supostamente devorado por canibais no interior de Minas Gerais, Alberto é obrigado a retornar à terra natal para investigar o mistério e transformar a história em um livro. Chegando lá, recebe a ajuda do taxista Tião (Fabrício Boliveira) que o leva até o local. Alberto vai penetrando em um Brasil alegórico e misterioso. Temendo por um final como o do francês, se desespera. Mas encantado com a beleza brasileira de Bethânia (Débora Nascimento) se entrega ao destino e redescobre sua identidade.
'O lugar onde está a felicidade'... essa era a afirmativa de Lefavre que ecoava na cabeça dos franceses que enviaram Luppo até aquele lugar inóspito (pelo menos aos olhos dele). Luppo não esperava ter que voltar ao Brasil, para ele o país iria 'do descobrimento ao desaparecimento sem passar pela civilização' e aquele seria o último lugar onde ele gostaria de estar. Mas, o que era um obstáculo poderia vir a se tornar um degrau para esse homem orgulhoso se voltar ao que realmente interessa. Seu olhar começa a mudar, e no ápice do encontro consigo mesmo, todos os caminhos já estariam abertos, facilitando assim o acesso ao que o destino lhe reservava. A felicidade morava mesmo no caminho dessas descobertas.
Evocando cultura indígena e rituais, o filme de Biondani no leva através dessa viagem que tem a 'tarefa' de resgatar esse homem das mãos da arrogância- que precisa mergulhar fundo nesse universo misterioso para se conhecer. A linguagem da direção foge o habitual e pode soar estranho para alguns, mas o filme é um primor no que diz respeito ao visual e na mensagem clara, mesmo que os caminhos soem caricatos ou alegóricos demais.
Por último, destaco a impagável participação do multifacetado Fabrício Boliveira, que dá vida a um taxista cheio de maneirismos, que chega a ser providencial como alívio cômico numa produção com certa densidade como se revela o longa de Biondani.
Vale Ver !
DIREÇÃO
- Willy Biondani
EQUIPE TÉCNICA
Roteiro: Daniel Tavares, Eliseo Altunaga, Willy Biondani
Produção: Denise Gomes, Paula Cosenza
Fotografia: Olivier Cocaul
Trilha Sonora: Egberto Gismonti
Estúdio: Bossa Nova Films
Montador: Isabelle Rathery, Umberto Martins
Distribuidora: Imagem Filmes
ELENCO
Débora Nascimento, Fabrício Boliveira, Flavia Garrafa, Giselle Motta, Jai Baptista, Marilyne Fontaine, Maurício de Barros, Otávio Augusto, Pierre Richard, Sérgio Guizé, Stéphan Wojtowicz
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