PiTacO do PapO - 'Os Incríveis 2' | 2018
NOTA 9.5
Santa nostalgia, Batman!
Por Vinícius Martins @cinemarcante
Super Vale Ver !
Santa nostalgia, Batman!
Por Vinícius Martins @cinemarcante
É complicado ser imparcial quando um filme é intensamente pessoal. A noite de vinte e três de dezembro de dois mil e quatro me marcou por duas coisas: uma tragédia pessoal e a primeira vez que assisti ‘Os Incríveis’ no cinema; na ordem contrária, para ser mais exato. Pensar hoje no sexto filme do estúdio Pixar me faz recordar um momento de paz antes da tormenta, mas não de uma maneira ruim. Assistir a ‘Os Incríveis’ me transporta para uma época com menos problemas, sem grandes preocupações, e sem luto. E em dois mil e dezoito, quatorze anos após aquela noite fatídica, ver na tela grande sua sequência ganhar vida é como sentir o fechamento de um ciclo, me levando, de certo modo, para aquele momento bom e conectando o presente com o passado, de alguma maneira anulando momentaneamente as coisas ruins da última década e meia e me transformando em um garoto de doze anos de novo. Isso, senhoras e senhores, é a magia do cinema.
Poucos estúdios conseguem transformar entretenimento em pontes emocionais. A carga dramática sempre presente nos filmes da Pixar é marca registrada de seus projetos bem-sucedidos, e ‘Os Incríveis 2’ é mais uma evidência de sua genialidade. Dessa vez o diretor Brad Bird inverte papéis e valores, trazendo uma notável parte 2 que questiona direitos e deveres e é, ao mesmo tempo, recheada de dilemas engraçados e revisões de conceitos. Se no primeiro longa Bird colocou todo o seu potencial satírico em uma releitura da relação entre Batman e Robin onde o ajudante é desprezado, na nova produção o diretor e roteirista gera o repensar da imagem, como fez no primeiro, mas acrescentando um peso no conflito dos heróis que se mostra imensamente válido no contexto da atualidade mundial. Consequências chegam, e onde deveria haver justiça há apenas o bom é velho apontar de dedos nas acusações de culpa. Sob esse pretexto inicial, o filme segue em sua jornada de retomada da ordem, com a missão interna de reerguer o moral dos heróis perante a sociedade. É justo afirmar, sem exageros, que o filme é indiretamente uma ópera de protesto contra as políticas questionáveis das maiores entidades governamentais do planeta. O discurso pregado pelos heróis mal interpretados é um apelo para serem ouvidos e aceitos, assim como suas sempre boas intenções. E o que chama a atenção nisso tudo é a maneira sutil com que Bird expõe essas ideologias, apresentando pequenos conflitos familiares e problemas cotidianos em um paralelo com os dramas de heroísmo e redescoberta da abolida classe heroica vista no primeiro filme.
Sem deixar o ritmo do filme cair, o roteiro se empenha em valorizar (não de forma superestimável) as pequenas coisas simples vividas dentro de uma casa, fazendo o termo “dividir para conquistar” ganhar uma nova roupagem e mostrando, em uma das sequências mais incríveis do ano, que não se pode fazer o bem se não se estiver bem consigo mesmo. Não há nada pior para um super-herói (ou um adulto) do que estar dividido entre suas tarefas e deveres ou o imediatismo de suas vontades e prazeres. A ideia da crise de consciência de alguns personagens é bem clichê no cinema convencional, mas funciona com um encaixe perfeito na trama para ligar as frustrações mediante as expectativas da vida adulta com o ideal da responsabilidade que todos - inclusive as crianças - têm. Com uma fotografia e uma gráfica imensamente superiores às de quatorze anos atrás, a história da família de heróis que tenta se ajustar a um velho mundo novo é contada com uma riqueza hoje irretocável de detalhes, que atribuem uma textura orgânica de qualidade máxima que elevam ainda mais o patamar da Pixar como a referência no gênero audiovisual - vale destacar a vinheta de introdução do filme, que é uma arte minimalista da famosa panorâmica da câmera acima do castelo.
A histórica data de vinte e oito de junho de dois mil e dezoito é o marco de uma geração que aguardou ansiosamente a sequência da melhor animação do estúdio Pixar. O filme quase debutante faz valer cada dia de espera, e a atmosfera nostálgica gerada a cada novo frame (ou na trilha sempre genialmente intensa de Michael Giacchino) é de ares que se dá prazer em respirar. Seja nos trens que sempre precisam ser parados ou nas lições de matemática a serem ensinadas, a imagem que fica é a de que para ser um herói é necessário ter, acima de tudo, empatia. E é exatamente isso o que falta no mundo de hoje.
A histórica data de vinte e oito de junho de dois mil e dezoito é o marco de uma geração que aguardou ansiosamente a sequência da melhor animação do estúdio Pixar. O filme quase debutante faz valer cada dia de espera, e a atmosfera nostálgica gerada a cada novo frame (ou na trilha sempre genialmente intensa de Michael Giacchino) é de ares que se dá prazer em respirar. Seja nos trens que sempre precisam ser parados ou nas lições de matemática a serem ensinadas, a imagem que fica é a de que para ser um herói é necessário ter, acima de tudo, empatia. E é exatamente isso o que falta no mundo de hoje.
Super Vale Ver !
DIREÇÃO
- Brad Bird
EQUIPE TÉCNICA
Roteiro: Brad Bird
Produção: John Walker, Nicole Paradis Grindle
Fotografia: Erik Smitt, Mahyar Abousaeedi
Trilha Sonora: Michael Giacchino
Estúdio: Pixar Animation Studios, Walt Disney Pictures
Montador: Stephen Schaffer
Distribuidora: Disney
ELENCO
Bob Odenkirk, Brad Bird, Catherine Keener, Craig T. Nelson, Holly Hunter, Huck Milner, Isabella Rossellini, John Ratzenberger, Jonathan Banks, Kimberly Adair Clark, Samuel L. Jackson, Sarah Vowell, Sophia Bush
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