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PiTacO do PapO - 'Arabia' | 2018

NOTA 8.5

Por Rogério Machado


O melhor filme segundo o Festival de Brasília no ano passado, 'Arábia', da dupla Affonso Uchoa e João Dumans é um retrato clínico sobre a situação do trabalhador brasileiro. Principalmente nesse momento onde o desemprego e os trabalhos temporários andam em alta, o filme se torna um diário aberto e sincero sobre a insegurança da classe trabalhadora, explorada com sensibilidade e inteligência. O filme passou pelos cinemas brasileiros em abril desse ano e está disponível on demand. 

Na história conheceremos Cristiano (Aristides de Sousa), um operário que vive pulando de emprego em emprego pelo interior mineiro, nos arredores de Ouro Preto. A vida nômade complica seu enraizamento, além de lhe propiciar condições precárias. Um dia, ele sofre um acidente e fica no hospital. Em seguida, uma enfermeira Márcia (Glauca Vandeveld) envia seu sobrinho André (Murilo Caliari), para a  casa de Cristiano para recolher documentos e roupas para a internação , e encontra um diário onde o rapaz registra suas percepções de tudo que viveu até ali.




Nesse caderno ela conta por onde passou , quem conheceu, quem o ajudou, quem deu oportunidade, quem a tirou,  e até quem amou. As memórias de Cristiano vão se desvendando na tela aos poucos, e aos poucos também vamos nos envolvendo com o drama dele - a narração em primeira pessoa, assim como as lentes atentas de Uchoa e Dumans vão provocando não só nossa curiosidade sobre o presente e o futuro do rapaz, como também faz o especador se afeiçoar à ele. O longa tem tom de denúncia sobre as péssimas condições de trabalho e por vezes a exploração a qual o brasileiro é submetido, como também se revela uma drama em potencial sobre uma vida vazia, sem rumo ou amparo.

O longa tem uma grande carga de verdade e tamanha organicidade não é por acaso: assim como seu personagem, o protagonista Aristides de Souza também é um ex detento, que com toda certeza também  sofreu na pele com o preconceito por parte dos empregadores ou mesmo da sociedade. 

'Arábia' fecha uma espécie de trilogia do cinema contemporâneo nacional sobre a nova classe operária. Dialoga com 'Corpo Elétrico', sobre trabalhadores de uma confecção no Bom Retiro, e com o filme 'Pela Janela', retrato da melancolia de quem dedicou parte da vida a uma fábrica e descobre, depois dos 60, não ser nada além da força de trabalho sem gosto ou vontade. É o cinema cumprindo seu papel social e o melhor, dentro da nossa exata realidade. 


Vale Ver !


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