Adsense Cabeçalho

PiTacO do PapO - 'Unicórnio' | 2018

NOTA 8.0

Soneto de espera

Por Rogério Machado


Hilda Hilst, que inclusive foi a homenageada da Feira Internacional do Livro em Paraty (FLIP) desse ano, teve uma vasta obra publicada dentro da literatura brasileira, mas por incrível que pareça não era tão lida, sua obras fizeram sucesso após sua morte. Coincidência ou não, a escritora falecida há mais de dez anos,  vem sido destaque com livros reeditados e produções cinematográficas que levam seu nome. O documentário 'Hilda Hist Pede Contato' (de Gabriela Greeb) chegou no início desse mês aos cinemas. E agora, inspirado em contos da escritora com a direção de Eduardo Nunes, estreia essa semana nos cinemas 'Unicórnio', que tem fragmentos de dois contos: 'Unicórnio' e 'Matamouros'. 



Na trama, quando o pai de Maria (Bárbara Luz) deixa sua casa, ela e sua mãe (Patrícia Pillar) voltam a seu cotidiano de cuidar da casa e da plantação, esperando seu retorno. No entanto, quando o destino das duas se cruza com um criador de cabras (Lee Taylor) que vive na região, elas se entregam a seus desejos e o futuro de sua família pode se tornar estranho... e trágico. 

Na sessão Vitrine Petrobrás, num encontro com o cineasta, ele abre o evento dizendo: 'Esse filme funciona como um sonho e tem o ritmo dele, contanto que você entre nesse sonho, tem tudo pra embarcar na história'. Logo nas primeiras imagens vemos que a fotografia será o ponto alto do filme. A iluminação, as cores supersaturadas e os cenários, certamente nos rementem à um sonho, e à medida que a trama avança, vamos sendo apresentados de maneira contemplativa, onírica, aos personagens, que com tempo (Nunes não tem pressa nessa introdução) vão mostrando a dor da espera das mais variadas formas - no trabalho com os afazeres de casa, através de olhares pedidos, e especificamente Maria, em encontros com o pai (na minha opinião, o sonho dentro do sonho).

O cinema de Eduardo Nunes bebe de fontes variadas: influências do cinema de Mallick por exemplo, que precisa do espaço de tempo e usa-o sem atropelos para fazer o espectador não só assistir, mas se tornar parte da história. Até certo ponto funciona, mas quando a fotografia esfuziante dá lugar à alternâncias de ambientes extremantes claros (esse dentro do sonho de Maria com o pai) e outros muito escuros (na penumbra da casa da colina com a mãe) , o que parecia atrair-nos para dentro da narrativa, acaba repelindo: pelo exagero na inventividade ou quem sabe por buscar muito pela fantasia. Contudo, não dá pra desprezar o peso autoral da obra, assim como as performances num todo, ou mesmo a já celebrada fotografia. 


Vale Ver !





Nenhum comentário