PiTacO do PapO - 'Vidas à Deriva' | 2018
NOTA 7.4
Shailene Woodley quer ganhar um Oscar
Por Vinícius Martins @cinemarcante
Quando um filme chega aos cinemas com uma legenda no cartaz que anuncia ser baseado em uma história real, é quase garantido que as salas ficarão lotadas. O público ama um bom filme “lição de vida”, estilo ‘À Procura da Felicidade’, promovendo valores e ensinando algumas frases de efeito como se fosse um livro de autoajuda disfarçado de romance. Dentre esses longas alguns são bons, outros são questionáveis, uns dão lucro, outros são fiascos. Fato é que tudo que está sinalizado como “baseado em fatos” chama a atenção. E se há tragédia envolvida, o diretor Baltasar Kormákur entende do assunto. Ele dirigiu o excitante ‘Evereste’ em 2015 e o intenso ‘Sobrevivente’ em 2012, e é o responsável por comandar essa produção baseada no relato de Tami Oldham.
Todavia, mesmo o melhor diretor do mundo pode sofrer por conta de um roteiro mal construído, e Kormákur (que apesar de bom não é esse melhor diretor) fica rendido a uma trama escrita de forma não linear, que deveria funcionar perfeitamente se não fosse pela insistência do trio de roteiristas Aaron Kandell, Jordan Kandell e David Branson Smith em querer tornar os flashbacks em reapresentações dos filmes adaptados das obras de Nicholas Sparks. A dinâmica do filme poderia ser perfeita, mas esse desequilíbrio se torna um incômodo notável.
A fotografia, apesar de bela em algumas boas partes, não contribui para a imersão do público na vertigem do isolamento. ‘Até o Fim’, lançado no Brasil em 2014, consegue criar essa atmosfera e nos fazer esquecer que junto com Robert Redford estavam dezenas de pessoas durante as gravações do longa. E o brilhante ‘Kon-Tiki’, que chegou às telonas brasileiras em 2013, é um exemplo a ser seguido no que diz respeito a estar de fato à deriva, situando o público nesse contexto com sua fotografia primorosa. Em ‘Vidas à Deriva’ a coisa é um pouco diferente. Ao optar por filmar várias sequências na água, mostrando a ação no barco como se o público fosse somente um mero espectador, o diretor de fotografia Robert Richardson gera exatamente essa sensação: não estamos participando. Isso é bom e ruim, dependendo do lado em que se escolha analisar. Bom por colocar o espectador no lugar dele, ruim por reduzir a empatia e a imersão na história contada.
Com efeitos em sua maioria bons e uma atuação devastadora de Woodley (que parece implorar “me dê um Oscar!”), o filme tem seus méritos e até vale o ingresso por conseguir emocionar em uma boa dosagem quando necessário (a reviravolta no final), mas está longe de ser um ícone memorável para os próximos anos como ‘As Aventuras de Pi’ foi no seu tempo.
Vale Ver !
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