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PiTacO do PapO - 'Next Gen' | 2018

NOTA 9.2

Um conselho válido para a próxima geração..

Por Vinícius Martins @cinemarcante 


A evolução das máquinas, seguida por uma rebelião contra a humanidade, já é algo discutido pela ciência há décadas. No cinema não é diferente, uma vez que grandes clássicos se consagraram justamente pela abordagem do tema de maneira novelesca. Filmes como os da série 'O Exterminador do Futuro’ e ‘2001: Uma Odisseia no Espaço’ trouxeram esse temor à luz com louvor, mostrando que de boas intenções o inferno está cheio e que a tentativa de salvar a humanidade pode ser justamente o gatilho que provocaria sua destruição.

A nova produção original da Netflix tem essa mesma proposta, mas vai além. Ao tratar assuntos como monopólio e bullying, ela levanta uma abordagem íntima ao objetivo do uso da tecnologia, que deveria facilitar a vida das pessoas para torná-las mais unidas, mas termina por distanciá-las (aquele velho discurso sobre internet: aproxima quem está longe e afasta os que estão ao lado). Quem já viu filmes com essa temática já deve estar cansado desse tipo de visão, mas para as crianças, que são o público alvo e que estão crescendo no meio desse excesso de exposição e facilitação de quase todos os processos necessários à evolução individual, a ideia pregada aqui é não só útil como também necessária.


O ódio que transborda do olhar da protagonista, Mai, reflete o reverso do anseio da atual geração: menos tecnologia e mais tempo vivendo de verdade. Esse contraste se reveste de um apelo ao inevitável retrocesso, quando o menos for mais e o mais for menos, com uma inversão de valores e interesses que pode ser comparada com a mudança que o mundo (em especial a juventude) passou nessas últimas décadas. Se antes os pais lutavam para tirar os filhos da rua, hoje eles lutam para levá-los a rua, para que os mesmos larguem a tecnologia para viver o que há de melhor na infância; e o filme resgata essa perspectiva, mas do ângulo onde o diferente se torna o comum e o comum se torna estranho. Todo o rancor que a adolescente sente do meio que a oprime é extravasado quando ela encontra o inocente robô 7723 (ou Projeto 77), que ela logo trata de converter ao vandalismo e à violência - nesse aspecto o filme se assemelha bastante com o gangster 'Chappie’, do diretor Neill Blomkamp. É nesse ponto que ela adquire sua “arma contra o sistema”, usando tecnologia para confrontar a tecnologia e aqueles que fazem mal uso dela (como a colega da escola que usa robôs para espancá-la).

Mas é no primeiro encontro entre Mai e o “Robô Idiota” que se nota o subliminarismo que circunda a produção. A representação do afresco de Michelangelo vista no toque de dedos entre Mai e o projeto 77 é friamente o nascimento de um novo Adão, e o comentário do doutor Rice no minuto anterior sobre perfeição e imperfeição é a cereja no bolo. É aí que criatura se torna criador, como o rito de passagem de um bastão, coroando o momento da criação com um peso quase semelhante ao do nascimento de um ovíparo, quando o primeiro ser visto é tido como a mãe, a figura a quem seguir e obedecer. Até a escolha do nome do robô nitidamente não ficou ao acaso. Sete é tido por muitos como o número da perfeição, e aqui o número 77 cai como uma luva para ilustrar uma perfeição dupla - ou dobrada, como preferir.

O vilão não é original, mas ainda assim é interessante. Pode-se dizer que seu plano maligno é o mesmo que Valentine tinha no primeiro 'Kingsman' (2014), só que em uma versão para crianças (distribuir tecnologia gratuitamente com a finalidade de usar esses produtos como ferramentas de extermínio). Mas é com Ultron que se compara seu objetivo, já que a “nobreza” de tornar o mundo um lugar melhor se equipara ao intuito do vilão do segundo filme dos Vingadores.

Visualmente, o filme evoca ‘Blade Runner’, ‘Minority Report’, ‘Eu, Robô’ e até mesmo a ‘Transformers’. O caricato alívio cômico do cachorro de Mai, o desbocado Momo, ganha personalidade na voz ríspida de Michael Pena. A qualidade da produção é vista nos mínimos detalhes, desde rachaduras no asfalto quando Mai entra no caro da mãe após o anúncio do Gen6 até a genialidade do logotipo da QI Robotic. O roteiro, mesmo que um tanto que fácil, é satisfatório e sabe dar a empatia necessária para tornar 77 (que é dublado por John Krasinski) o robô mais carismático desde Baymax. Por fim robô e menina vivem, se tornam melhores amigos e embarcam em uma jornada de descoberta, como a ironia do primeiro encontro assim o quis.


Super Vale Ver !



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