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PiTacO do PapO - 'O Predador' | 2018

NOTA 8.7

“Sabe a Whoopy Goldberg? Parece com ela, só que ET”



Por Vinícius Martins @cinemarcante


É sempre uma tarefa complicada reviver uma franquia mantendo a identidade original e, ao mesmo tempo, dando uma marca própria para a nova produção. Em 2015 tivemos uma série de sequências que marcavam o reboot de grandes nomes de décadas atrás. 'Jurassic Park’, 'Star Wars’ e 'Mad Max’ ganharam uma repaginação, e seguiram o caminho do sucesso em bilheterias e críticas, rendendo até indicações ao Oscar dada a qualidade com que foram feitos. Do outro lado dessa proposta, vimos o fracasso amargo de 'O Exterminador do Futuro’ (que ainda ganhará mais uma chance para se redimir em 2019), que não conseguiu cativar tanto quanto os outros mesmo tendo Alan Taylor na direção. E agora, após duas sequências e dois derivados, é a vez do alienígena humanóide retornar aos cinemas para arriscar seu nome na concorrência de uma vaga no seleto hall de clássicos cultuados ressuscitados. Chegou a vez de 'O Predador'.

O manto da direção dessa vez está sobre os ombros de Shane Black. O grande público talvez o conheça pelo bilionário 'Homem de Ferro 3’, de 2013 (aquele que divide os fãs até hoje), mas certamente alguns se lembrarão dele pelo excelente 'Dois Caras Legais’, de 2016. E nesses dois títulos é bem fácil notar o humor peculiar com que Black desenvolve suas produções, que ao usar uma grande dose de sarcasmo e humor negro termina por polarizar as reações do seu público para ou a idolatria ou a condenação. O que é curioso notar é o uso abstrato da violência como uma caricatura; Black faz da sanguinolência uma extensão de suas piadas e, de uma forma diferente da de Quentin Tarantino, utiliza essa ferramenta não como uma ironia à trama, mas sim como um acréscimo à tragédia da vulnerabilidade humana. Se a violência em 'Dois Caras Legais’ era risível pela arrogância de seus protagonistas em sua jornada de redenção, aqui ela é risível pela impotência diante do inevitável, enquanto inferioriza a todos os personagens e cria neles uma tensão na preparação para a rodada seguinte de miúdos.


De ‘Predador’ Shane Black entende, e muito. O filme se equilibra bem entre a originalidade própria e a honra ao espírito de presa do filme de 1987, mas ao mesmo tempo se mescla a elementos e objetivos de seus antecessores. A trama é focada em um Predador fugitivo que busca exílio na Terra, em um fuzileiro (Boyd Holbrock) que é preso por ter visto demais, em um grupo de combatentes loucos que ele encontra em sua fuga, na família do fuzileiro - que é para quem ele manda uns artefatos pelos Correios como evidência -, e em um outro Predador gigantão da porr@ que chega na Terra querendo a cabeça - literalmente - do Predador fugitivo.

Os conceitos de caçador e caça, vistos no clássico e na segunda sequência (‘Predadores’, lançado em 2010), ganham uma nova camada quando os papéis são invertidos e aparece um predador para o Predador. O objetivo da visita à terra, no entanto, ganha ares mais “nobres” como os do derivado 'Alien vs Predador’, onde o extraterrestre de dreads é incumbido da missão de evitar a destruição do mundo por uma invasão. O que se tem também nesse novo filme é uma definição mais nítida sobre o título ilógico de predadores aos alienígenas, sendo que eles caçam por lazer e não por sobrevivência. Os diálogos são bem escritos, por mais ridículos e toscos que possam ser alguns personagens (que não deixam de ser interessantes por isso), e o esquadrão formado pelos “doidos do grupo 2” convence na ideia de que só mesmo um bando de malucos para topar fazer o que eles fazem em cena; uma definição de grupo que coloca 'Esquadrão Suicida’ no bolso, e cada morte é sentida pelo público até com uma certa empatia. Black sabe como tratar seus coadjuvantes, uma vez que ele mesmo foi um no primeiro filme, onde Arnold Schwarzenegger era o protagonista (Black era um daqueles personagens secundários que estavam alí só para morrer).

Com ares renovados e um gancho gigantesco para uma sequência promissora, 'O Predador’ não é apavorante como o clássico mas se entrega com entusiasmo ao circo de horrores que ele é. O filme reconhece sua veia de irrealidade e ri de si mesmo, sem se preocupar em esclarecer coisas que fujam do seu objetivo por mais que a evolução de alguns personagens se atropele no meio do caminho. Se é cinema despretensioso dos anos 70/80 que o povo clama ver, então está aí o tão esperado resultado: uma sessão pipoca que finge ser inteligente enquanto trola a sua própria existência - e isso é sensacional.


Vale Ver !


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