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Livro Vs. Filme : 'Êxodo: Deuses e Reis' | Parte 1

Por Vinícius Martins @cinemarcante


Em um mundo dominado por uma maioria de pessoas cristãs, onde o calendário que data nossa era tem como base o nascimento de Cristo, é natural que as crônicas bíblicas façam parte da cultura coletiva. Somos cercados por imagens de santos e templos históricos, e os relatos do livro sagrado se fazem presentes também no imaginário popular, chegando ao cinema em adaptações que vez ou outra polemizam os circuitos. Na coluna de hoje, que é a primeira parte de duas, analisaremos os pontos principais da adaptação do segundo livro da Bíblia: Êxodo.

Livro: Êxodo, escrito por Moisés
Filme: Êxodo: Deuses e Reis, dirigido por Ridley Scott



Quando se trata de uma adaptação bíblica, a comunidade religiosa logo se alvoroça em expectativa para ver nas telas a encenação de suas histórias favoritas. No entanto, como já vimos algumas matérias atrás (quando comparamos os pontos fiéis e infiéis da jornada de Noé dirigida por Darren Aronofsky), não é sempre que o resultado é satisfatório. Tendo em vista que nem Cristo conseguiu agradar a todos, os roteiristas Adam Cooper, Bill Collage, Jeffrey Caine, e Steven Zaillian justificaram as mudanças vistas nos cinemas em comparação com os escritos de Moisés com um fato simples: existem várias religiões porque existem várias visões e interpretações diferentes quanto às escrituras sagradas; e este filme deve ser visto como apenas mais uma dessas versões. Dizendo isso, eles conseguiram uma espécie de segurança, um “respaldo do público” para fazer algumas alterações na história. É sobre essas alterações que começaremos hoje, para o bem e para o mal.

A história de Moisés é um ícone, em todos os aspectos. Seja no contexto cultural, histórico ou, para alguns, mitológico, a jornada do homem destinado a libertar um povo da escravidão é um marco bíblico e também cinematográfico. Engana-se quem pensa que 'Êxodo: Deuses e Reis’ é o primeiro filme a contar essa história. Fica, desde já, a recomendação para que se assista ao filme 'Os Dez Mandamentos’ - 1956 (não, eu não estou falando da versão da Record, mas sim do clássico premiado e indicado ao Oscar). Veja também 'Moisés’ (1996) que se fez com uma fidelidade genuína ao que é contado na Bíblia. Terminadas as recomendações aos interessados, vamos para o filme de Ridley Scott.



A superprodução de Hollywood gerou algumas controvérsias já na escalação do seu elenco principal: o filme foi feito em uma época em que começava a ser debatido o embranquecimento dos filmes, tirando muitas vezes a etnia original da história contada para colocar um rosto conhecido no lugar a fim de fazer mais público. Se de um lado temos 'As Aventuras de Pi’ e 'Cartas de Iwo Jima’, que são de um elenco fidedigno ao cenário, do outro temos 'Ghost in the Shell’ e 'Êxodo: Deuses e Reis’, que trazem figuras populares nos cartazes. Grandes nomes integram o elenco de 'Êxodo’, e no geral são de atores ocidentais. Christian Bale, Joel Edgerton, Ben Mendelsohn, Sigourney Weaver, Aaron Paul, John Turturro e o grande Sir Ben Kingsley são figuras que compõem o corpo de protagonistas. Kingsley parece ser o único com traços adequados à história contada. Ele fez, inclusive, o papel de Moisés na produção citada anteriormente, que carrega o nome do personagem principal, cujo significado é atribuído a “tirado das águas” (um filme enorme e excelente, devo dizer).

Muito foi mudado em relação às escrituras originais; algumas coisas em distorção, e outras em acréscimo ao contexto. Um acerto notável é, por exemplo, a ideia de interligar as pragas lançadas sobre o Egito, relacionando uma a outra, mostrando a chegada de cada nova praga como consequência da anterior. Com o rio transformado em sangue (aqui devido a ataques de criaturas enormes, crocodilos), as rãs subiram para o solo. Com elas vieram os piolhos (ou pulgas, dependendo da tradução). Com as mortes das rãs, moscas tomaram os céus, arruinaram as plantações e por isso os animais morreram, e assim sucessivamente. Essa opção foge um pouco do sentido bíblico, mas acrescenta ares “científicos” aos fatos e desgraças acerca do império egípcio.



No entanto, o assunto mais comentado quando se saía do cinema era a cereja do bolo da história, o fato mais marcante na jornada de Moisés: a travessia do Mar Vermelho. Segundo a Bíblia, Moisés tocou a superfície do mar com seu cajado, seguindo a ordem de Deus, e o mar então se abriu formando duas paredes de água, abrindo um corredor por onde o povo hebreu conseguiria passar em segurança até a outra margem. No filme, porém, o mar “escorre” para um lado e depois retorna como uma onda gigantesca para dar fim aos exércitos de Ramsés. Visualmente pode ter ficado lindo, mas aqueles que queriam ver o espetáculo do mar sendo aberto ao meio, certamente ficaram decepcionados.

Na próxima semana nos aprofundaremos nos conceitos doutrinários pregados pelo filme e como eles somam ou interferem no que é lido no material original. Ative as notificações para não perder!



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