Especial: Filmes Políticos - Parte 4 | O Jornalismo
Por Vinícius Martins @cinemarcante
Hoje veremos alguns excelentes casos de jornalismo e mídia retratados em filmes de altíssima qualidade. Começando com três produções que, apesar de não terem relação entre si, podem ser considerados sequências diretas ou indiretas em suas narrativas dos fatos acerca do caso Watergate. Em seguida, uma ficção com Ben Affleck, mais um caso real de conflito entre o jornalista e um político mentiroso, e por final dois filmes que mostram como o jornalismo pode desgraçar o mundo se estiver envolvido com a corrupção política. Vamos aos filmes!
➽The Post: A Guerra Secreta
O jornalismo pela verdade
Um dos maiores problemas da América, segundo os próprios americanos, é o orgulho. Orgulho pode ser bênção ou maldição, dependendo da dosagem, e aqui ele se enquadra no segundo tipo. O orgulho fez com que o governo dos Estados Unidos enviasse cada vez mais soldados para a morte em vez de simplesmente assumir derrota. Orgulho, somente. E quando um jornalzinho quase falido teve acesso ao dossiê secreto com todos os registros e relatórios extra-oficiais, os dados da persistência no fracasso se tornaram uma ameaça ao próprio governo perante o sentimento de glória de seus cidadãos. Como reagiriam as mães ao saberem que seus filhos morreram por soberba? Como se sentiriam as viúvas ao descobrirem que seus maridos foram mortos porque o governo quis manter uma fachada de sucesso e vitória como vitrine para si mesmo? Esse sentimento de indignação seria pior do que a própria perda da guerra.
E para evitar que o tal jornal trouxesse esses arquivos à luz, foi montado um forte esquema de censura para fazer com que nenhum editor ousasse trazer as informações à tona. Direitos foram violados, o povo foi enganado e a coragem de enfrentar o próprio governo brotou no meio jornalístico como um vírus incurável, e se reproduziu ao ponto de que todos deixaram de lado as rivalidades de mercado e se uniram em prol da verdade ocultada pelos figurões. A jornada rumo à revelação não começou no Washington Post, mas foi lá que toda a credibilidade e todo o valor de mercado que se tinha foi colocado em risco para levar ao público a verdadeira face de seu governo. O resultado? O estouro de um dos maiores escândalos de corrupção da história dos Estados Unidos: o caso Watergate (mas isso é assunto para o próximo filme).
A palavra que melhor define o filme é: Bravura.
➽Todos os Homens do Presidente
O jornalismo pela confirmação
Mais uma vez o Washington Post passando por aqui. Desta vez, nas figuras de Robert Redford e Dustin Hoffman, que encarnam uma dupla de repórteres rivais que são colocados para investigarem, juntos, o roubo ao Watergate. É, meus amigos, imprensa e aquele maldito condomínio tem uma relação forte mesmo. O que começa como uma manchete pequena, digna de apenas algumas páginas no folhetim policial, se torna algo muito maior na medida em que a dupla vai se aprofundando em sua escavação rumo a tão negada verdade.
O resultado foi o pior imaginado: um a um, nomes foram surgindo e iniciou-se uma rede que despontaria na figura política mais importante do país na ocasião: o presidente Richard Nixon. Afinal de contas, a invasão a sede do partido de oposição (que ficava no Watergate, caso você não conheça a história) foi um mero caso de latrocínio ou um ato absurdo de espionagem política? O jornalismo conseguiu aqui, através de sua persistência e coragem, levar Nixon à renúncia. Quando a imprensa se empenha em defender a democracia e os direitos do povo, é gratificante ver o resultado na vida real sendo retratado em um filme bem feito. Pena que nem sempre é assim, como vamos ver no último filme da lista de hoje.
A palavra que melhor define o filme é: Averiguação.
➽Frost/Nixon
O jornalismo pela confissão
A obra genial retratando o caso real da fatídica entrevista que o ex presidente Richard Nixon deu ao jornalista David Frost é uma perfeita análise do discurso da negação. Este é, sem sombra de dúvidas, um dos melhores filmes do premiado diretor Ron Howard, vencedor do Oscar por seu trabalho em ‘Uma Mente Brilhante’. ‘Frost/Nixon’ foi indicado ao Oscar de Melhor Filme, e muitos questionaram sua presença entre os indicados. Porém, sua qualidade é inquestionável, com uma excelente direção de arte, e ele merecia o destaque de estar entre os cinco selecionados para a disputa de 2009.
O filme conta a história dos bastidores de uma das situações mais importantes da história jornalística mundial: a ocasião em que David Frost conseguiu arrancar a derradeira confissão de Nixon sobre o caso Watergate. O Watergate, para os que não sabem, foi o palco de um dos maiores escândalos políticos (se não o maior) da história dos Estados Unidos, que agora parece fichinha se comparado ao que vivemos no Brasil atual. Mas voltando ao filme, Frank Langella e Michael Sheen estão irretocáveis em suas performances, e o filme é eletrizante nas cenas de debate. O caso é complexo demais para ser explicado rapidamente, então recomendo a pesquisa aos interessados.
A palavra que melhor define o filme é: Equilíbrio.
➽Intrigas de Estado
O jornalismo pelo benefício próprio
“Amigos, amigos, negócios à parte” - já dizia o ditado. Como proceder quando se é jornalista investigativo e amigo de um político importante, e por ironia do destino esse amigo se envolve na polêmica acerca de um assassino? E se a vítima desse assassinato é a secretária do amigo político, que era amante dele, e que estava grávida dele?
O filme trata o relacionamento pessoal do jornalismo (ou do jornalista, que seja) no conflito entre seu compromisso com a verdade e os seus próprios interesses. E fica a pergunta: no final, o que vai reinar será mesmo sempre a verdade? O elenco (composto por Russell Crowe, Ben Affleck, Rachel McAdams, Jason Bateman, Robin Wright, Jeff Daniels e Helen Mirren) cria toda a atmosfera de tensão enquanto o público é igualmente instigado, como o protagonista, a decidir o que fará com o poder que tem nas mãos: apresentar os fatos ou escondê-los.
O filme trata o relacionamento pessoal do jornalismo (ou do jornalista, que seja) no conflito entre seu compromisso com a verdade e os seus próprios interesses. E fica a pergunta: no final, o que vai reinar será mesmo sempre a verdade? O elenco (composto por Russell Crowe, Ben Affleck, Rachel McAdams, Jason Bateman, Robin Wright, Jeff Daniels e Helen Mirren) cria toda a atmosfera de tensão enquanto o público é igualmente instigado, como o protagonista, a decidir o que fará com o poder que tem nas mãos: apresentar os fatos ou escondê-los.
A palavra que melhor define o filme é: Moral.
➽Boa Noite e Boa Sorte
O jornalismo pela ética
Se George Clooney errou a mão em 'Caçadores de Obras Primas’, pode ter sido porque acertou excessivamente em 'Boa Noite e Boa Sorte’. O bordão que dá nome ao filme é uma frase real do grande Edward “Ed” Roscoe Murrow, âncora de um telejornal que joga merda no ventilador ao se empenhar em desmentir uma campanha fraudulenta contra supostas facções comunistas criada pelo senador Joseph McCarthy.
As mentiras de McCarthy, confrontadas sempre ao vivo e em horário nobre, deram a Murrow uma aura de honestidade imensa, tornando-o quase uma entidade por sua sinceridade e sua falta de medo em bater de frente com um figurão da política. McCarthy caiu, mesmo com sua popularidade crescente devido ao temor de um regime comunista em ascensão no período da Guerra Fria, porque um jornalista ousou colocar a verdade acima do indivíduo, acima do homem, e acima do sensacionalismo barato que doutrina a população por uma ideologia de medo e fúria.
A palavra que melhor define o filme é: Culhão.
➽Mera Coincidência
O jornalismo pela distração
Se um escândalo sexual envolvendo o seu nome coloca em risco a sua reeleição ao cargo presidencial, você faz o quê? Contrata um especialista de Hollywood para forjar uma guerra na Albânia para desviar a atenção desse escândalo, é claro!, e de quebra ainda ainda ganhar uma moral com o povo por ser o cara que a resolveu. Ao analisar um quadro assim, alguns diriam que seria cômico se não fosse trágico, mas no caso de 'Mera Coincidência’ é mais cabível afirmar que seria trágico se não fosse cômico.
O mais absurdo no filme estrelado por Anne Heche, Robert De Niro, William H. Macy, Woody Harrelson, Craig T. Nelson, Kirsten Dunst e Dustin Hoffman (que aparece na lista de hoje mais uma vez), é que não é difícil imaginar um cenário onde isso aconteça na realidade. O resultado dessa façanha é… bem… melhor parar de falar para não entregar spoilers. Só digo uma coisa: assistam!
O mais absurdo no filme estrelado por Anne Heche, Robert De Niro, William H. Macy, Woody Harrelson, Craig T. Nelson, Kirsten Dunst e Dustin Hoffman (que aparece na lista de hoje mais uma vez), é que não é difícil imaginar um cenário onde isso aconteça na realidade. O resultado dessa façanha é… bem… melhor parar de falar para não entregar spoilers. Só digo uma coisa: assistam!
A palavra que melhor define o filme é: Estratégia.
➽A Ditadura Perfeita
O jornalismo pela manipulação
Vemos aqui o jornalismo sendo usado como instrumento de condução da população, tornando o eleitorado uma grande massa de manobra que elege quem a mídia escolhe apoiar. A corrupção aqui é, basicamente, o que dita o que é feito ou não. Ocorre que, para desviar a atenção do povo após dar uma declaração polêmica, o presidente mexicano autoriza que uma emissora parceira da estatal dê destaque a um escândalo de corrupção envolvendo um governador de um estado pequeno e distante da capital. A denúncia, com evidências em vídeo, é veiculada em rede nacional e o tal governador logo decide se retratar e contratar essa mesma emissora (com dinheiro público, vale destacar) para restaurar sua boa imagem. Enquanto isso, aqueles que zelam pela verdade e pela real democracia são eliminados um a um, seja através de “queima de arquivo” ou no manchar da imagem pública.
A tal ditadura perfeita que o título faz menção, é uma máscara de democracia que põe em todos a crença de estar no controle do futuro do país, quando na verdade estão sendo bombardeados constantemente com influências midiáticas e direcionados como um rebanho de cordeirinhos tolos e inocentes. A mídia é, incontestavelmente, uma das ferramentas (se não A ferramenta) que mais influencia o povo e o conduz de acordo com seus próprios interesses. E esse filme é uma das obras mais importantes nesse quesito, por fazer pensar, levantar questionamentos e, hoje, gerar uma análise da imprensa brasileira acerca de em quem estão dando ênfase positiva e a quem estão tentando manchar ainda mais a imagem. Cada um entende como quiser mas, querendo ou não, a verdade continua sendo uma só.
A palavra que melhor define o filme é: Nojo.
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Nessas eleições fica o aviso: não acredite em tudo que lê, vê, ou ouve sair da boca dos seus candidatos. Para chegar lá, eles são capazes de inventar valores, mentir e até de comer pastel de vento na feira só para ter o seu voto. Não eleja qualquer um, que não represente os interesses desse povo. Fica a dica.
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