PiTacO do PapO - 'O Candidato Honesto 2' | 2018
NOTA 6.8
O cinema nacional está começando a sentir na pele os reflexos de uma crise de consciência oriunda de sua população. Com um protagonista que busca redenção (assim como, talvez, o público que o assiste), ‘O Candidato Honesto 2 - O Impeachment’ foi colocado nos cinemas algumas semanas antes das eleições presidenciais para criar, quem sabe, uma noção de futuro melhor mediante a escolha do voto com sabedoria. “Escolha bem o seu representante”, diz João Ernesto, personagem de Leandro Hassum fadado a falar apenas verdades, em seu discurso final pouco depois da previsÃvel - e desnecessária - revelação “bombástica” do clÃmax do filme. O que deveria ser uma fala laica, no entanto, mostra ser o espÃrito de uma obra que finge escolher um lado.
Mesmo sendo “assumidamente” um filme de esquerda, o filme não isenta nenhuma figura polÃtica importante da comicidade e do ridÃculo, ironizando uns e vilanizando outros (com exceção, talvez, de Aécio Neves, cujo personagem satÃrico também deveria estar com a cara enfiada em uma montanha de cocaÃna e evitando aparecer publicamente até que a fraca memória dos brasileiros esqueça sua charlatanice). Por não ser exatamente seletivo sobre a quem ele irá ofender, a produção se faz semi-neutra para agradar tanto a gregos quanto a troianos. Há gozação com Michel Temer, Dilma Rousseff, Jair Bolsonaro, Tiririca, Marina Silva, e tem até espaço para o figurante “Japonês da Federal”. Confesso, o filme é bastante engraçado e até surpreendente pela ousadia em representar tão fielmente elementos que foram as caricaturas das figuras citadas acima. Em suma, ninguém que valha a pena escapa do humor galhofas com ares ofensivos de Hassum - e nem ele mesmo; esse talvez, seja o maior triunfo do filme: o seu senso de autocrÃtica - mas disso eu vou falar mais adiante.
Mesmo sendo “assumidamente” um filme de esquerda, o filme não isenta nenhuma figura polÃtica importante da comicidade e do ridÃculo, ironizando uns e vilanizando outros (com exceção, talvez, de Aécio Neves, cujo personagem satÃrico também deveria estar com a cara enfiada em uma montanha de cocaÃna e evitando aparecer publicamente até que a fraca memória dos brasileiros esqueça sua charlatanice). Por não ser exatamente seletivo sobre a quem ele irá ofender, a produção se faz semi-neutra para agradar tanto a gregos quanto a troianos. Há gozação com Michel Temer, Dilma Rousseff, Jair Bolsonaro, Tiririca, Marina Silva, e tem até espaço para o figurante “Japonês da Federal”. Confesso, o filme é bastante engraçado e até surpreendente pela ousadia em representar tão fielmente elementos que foram as caricaturas das figuras citadas acima. Em suma, ninguém que valha a pena escapa do humor galhofas com ares ofensivos de Hassum - e nem ele mesmo; esse talvez, seja o maior triunfo do filme: o seu senso de autocrÃtica - mas disso eu vou falar mais adiante.
A produção dirigida por Roberto Santucci aborda, entre outras coisas, o fanatismo e a idolatria pela figura do polÃtico. Esse é um acerto notável e que merece ser mencionado, em contraponto com a pior falha que o filme tem e que será abordada agora. Apesar de não ser tão cafona, vergonhoso e piegas como o do primeiro filme, o final dessa sequência se faz com exatamente a mesma base e objetivo: passar uma mensagem para o público que crie uma consciência polÃtica através do discurso verdadeiro pregado na redenção do corrupto. Mas lembra que eu falei acima sobre o filme tentar criar uma noção de futuro melhor mediante a escolha do voto com sabedoria? O que ele cria, na verdade, é uma visão de impotência diante do sistema, o que anula o significado do discurso final do então presidente João Ernesto e torna o terceiro ato um festival de contradições. O sistema de corrupção continua de vento em popa, o Temer vampiro (sob o criativo nome de Ivan Pires), que era vice de João, assume a presidência após um golpe de estado milimetricamente articulado, e os maus ficam no poder enquanto os bons são abandonados ao vento. Que otimismo há em um final assim? Em quê isso casa com a ideologia pregada no fim? Soa, inclusive, hipócrita. O que é falado opõe o que acabou de ser visto, em uma sequência de palavras fofas que é quase uma afronta a inteligência do espectador.
Não vou nem comentar muito a bagunça temporal que o filme é, já o primeiro filme se passa em 2014 e João Ernesto volta para competir à presidência em 2018, que segundo o próprio filme foi oito anos após os fatos do primeiro filme. Pela cronologia, João Ernesto ficou 4 anos preso (cumprindo 1% de sua pena) e ficou mais alguns anos longe dos holofotes. A matemática está anulando essa coerência aÃ, só acho...
'O Candidato Honesto 2’ faz rir, diverte, e até ensina algumas coisas; mas desperdiça o que de mais importante havia em seu potencial: criar a mudança. Se o discurso fala da importância da autocrÃtica de um governo ou de um governante, por quê mostra que isso não muda nada na cena seguinte? Já falamos aqui que não adianta eleger um candidato bom e acreditar que ele fará a mudança enquanto o sistema continuar o mesmo (leia a segunda parte do nosso especial sobre filmes e polÃtica), e o filme parece ter essa mesma noção. Mas volto a perguntar: qual é a intenção em colocar em quem o assiste um sentimento de que pode fazer a diferença nas urnas se pessoas aparentemente boas como o honesto João Ernesto ficam reféns de um sistema ladrão? Iludir? Se for isso mesmo, esse filme é muito mais polÃtico do que parece ser.
Vale Ver, Mas Nem Tanto!
Vale Ver, Mas Nem Tanto!
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