Especial : 42ª Mostra Internacional de Cinema de SP

A  42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo chegou ao fim ontem. O nosso colaborador Rafael Yonamine, do @cinemacrica, esteve por lá quase todos os dias e conferiu várias produções de destaque na mostra. Assim, ele fez um compilado e nomeou um ranking entre alguns dos melhores filmes do maior evento de cinema em Sampa. Vem conferir e anote as dicas, alguns entram em breve no circuito comercial ou podem ser vistos à partir de amanhã no Festival Internacional de Cinema do Rio.

Ranking:

➧ Cafarnaum - NOTA 9.0

➧ Culpa  -  NOTA 9.0

➧ Noite Silenciosa - NOTA 8.0

➧ Vidas Duplas - NOTA 7.0

➧ O Anjo - NOTA 7.0

➧ A Casa que Jack Construiu- NOTA 7.0

➧ Vida Selvagem - NOTA 6.0

➧ A Prece - NOTA - 6.0

➧ Thunder Road - NOTA 6.0

➧ O Ingrediente Secreto - NOTA 5.0

➧ Uma Mulher em Guerra - NOTA 5.0

➧ O Intérprete - NOTA 4.0

➧ De Pai para Filho - NOTA 4.0

➧ Sobre Pais e Filhos - NOTA 4.0

➧ Malila - NOTA 4.0

Principais Sínteses e avaliações:

Cafarnaum: Ambientado em localidades extremamente pobres do Líbano, o filme é de uma competência comovente em retratar a pobreza e a privação de decência humana. Os 20 primeiros minutos são um bombardeio de sequências ricas em retratar essa realidade: destaco a triste cena do bebê da família manuseando cigarros numa visita a um presídio onde a mãe traficava drogas. A atuação do garoto que interpreta o protagonista Zain é genial, um dos melhores trabalhos infanto-juvenis que vi no ano. A diretora também é capaz de criar situações emblemáticas como o uso de uma panela e rodas para o pequeno Zain transportar o bebê de uma imigrante ilegal. Cafarnaum é um conjunto de atributos que se harmonizam em altíssimo nível. Não sei se virá para o circuito brasileiro, mas caso venha, não pense duas vezes em assistí-lo.

Culpa: Um verdadeiro thriller que faz muito com pouco e de forma extremamente elegante. Tudo é conduzido no pequeno ambiente do call center de emergências policiais. Roteiro e textos muito inteligentes. Impressionante a capacidade do diretor nos prender com recursos tão escassos. Vai representar bem a Dinamarca no Oscar.

Noite Silenciosa: Uma pérola polonesa muito eficiente em construir um drama familiar denso. Após um período ausente, Adam retorno ao lar no dia do Natal com o principal objetivo de antecipar parte da herança do seu avô. A receptividade da família, desde o primeiro momento e até antes de saber suas reais intenções, é áspera. Essa relação familiar, que deveria ser festiva, tem uma hábil construção melancólica suportada por elementos bem endereçados como a precisa construção de um lar insalubre.

Vidas Duplas: Comédia dramática com a presença de Juliette Binoche: a chance alta de ser um filme acima da média se confirma. O drama explora a relação conjugal pinçando aspectos cotidianos como perspectiva profissional e a inércia monótona de um matrimônio convencional. É o tipo de filme que se abre por meio de diálogos ricos com textos muito bem feitos.

O Anjo: Um bom representante argentino que mostra a capacidade de um jovem em delinquir. O diferencial é a ausência de pudores do protagonista em externalizar suas vontades de forma impulsiva e sem culpa. O filme é bem dirigido, mas rodeia em torno desse fato, mesmo que de forma crescente.

A Casa que Jack Construiu: O objeto de análise é a ascensão e desenvolvimento de um serial killer. O elemento mais original e relevante é a relação íntima com variadas expressões artísticas, passando pela música clássica, arquitetura, pintura e literatura. O ritmo imprimido intercala o amadurecimento do assassino e esses elementos artísticos, numa espécie de relação de embasamento. Soma-se a isso a capacidade do diretor em criar cenas icônicas, mesmo em assuntos aparentemente saturados como a violência. Os elementos são interessantes, mas não elevam a obra ao status de memorável, é um bom filme apenas. 

A Prece: Um jovem viciado em heróina busca reabilitação num centro católico. Após crises de abstinência, se dá conta que a vida oferece dilemas mais complexos como a decisão de vida de clérigo ou conjugal. Filme bem dirigido e envolvente, considerei um pouco simples o caminho final do roteiro que prorciona como principal conflito do protagonista  a escolha entre o caminho da carne ou da pureza.

Malila: Filme tailandês que, pela minha experiência dessa escola, preserva a característica contemplativa. O objeto de estudo é a relação entre dois camponeses. Um deles, tem uma incrível habilidade manual de construir arranjos de plantas típicas. Entretanto, acaba falecendo em decorrência da evolução de um câncer. Seu companheiro decide virar monge e de alguma forma busca uma reconexão com o amor perdido. Ao meu ver, o pacing é demasiadamente contemplativo e o roteiro não consegue nem imprimir ritmo, nem ser envolvente.

Rafael Yanomine: Formado e pós-graduado em Administração, já lidou com supply chain e agora business intelligence em marketing digital. Além da paixão pelo cinema, é um viciado em punk rock. E no cotidiano, dificilmente falta a um treino (incluindo finais de semana).