PiTacO do PapO - 'A Casa que Jack Construiu' | 2018

NOTA 7.0

Por Rafael Yonamine @cinemacrica 

Lars von Trier parece ter enveredado para o rumo trash após a crise de depressão entre os lançamentos de 'Manderlay' (2004) e 'Anticristo' (2009). Desde então, o diretor colecionou polêmicas e chegou a ser expulso do Festival de Cannes. Apesar dessa nova orientação, seus filmes, em média, sempre tiveram um bom nível de diferenciação explicitando, portanto, que estamos falando de um diretor talentoso. 'A Casa que Jack Construiu', destaque na Mostra SP e no Festival do Rio, não foge a essa lógica.

O objeto de análise é a ascensão e desenvolvimento de um serial killer. Para conduzir essa narrativa, Lars chegou a usar recursos já conhecidos. De Ninfomaníaca, incorporou a divisão do filme em capítulos e a dinâmica do protagonista em contar sua história a um ouvinte. Assim como em 'Dogville', também ouvimos aqui a trilha sonora de David Bowie. O elemento mais original e relevante é a relação íntima com variadas expressões artísticas, passando pela música clássica, arquitetura, pintura e literatura. O ritmo imprimido intercala o amadurecimento do assassino e esses elementos artísticos, numa espécie de relação de embasamento. Soma-se a isso a capacidade do diretor em criar ícones, mesmo em assuntos aparentemente saturados como a violência. O filme detém uma estética autêntica e poucas e boas cenas de violência dignas de serem patenteadas. Portanto, é um filme que usa o derramamento de sangue com parcimônia, não deixa de ser violento, mas não a banaliza. 

Também é possível destacar as boas pitadas de humor: considerei como pontos altos os acessos de TOC e manuseio cômico dos corpos das vítimas. Isso conduzido por uma boa atuação de Matt Dillon. Não chega a ser genial, mas convence em representar um homem sem pudores e desprovido de compaixão.

O filme chega a debochar da situação dos assassinatos em série. Jack, um arquiteto, tem mais dificuldade em projetar casas do que planejar a execução das vítimas com a arte como pano de fundo. Mesmo que a verossimilhança não tenha sido um objeto de preocupação, porque realmente não o foi, o fato é que a combinação desses elementos diferenciadores não elevaram a obra para o status de memorável. 'A Casa que Jack Construiu' é apenas um bom filme.

Vale Ver !