PiTacO do PapO - 'A Favorita' | 2019
NOTA 10
Decadence Avec Elegance
Por Karina Massud @cinemassud
Após os excepcionais (mas não exatamente pra qualquer público) “O Lagosta” e “A Morte do Cervo Sagrado”, eis que o cineasta Yorgos Lanthimos galga um degrau mais alto e realiza seu melhor, mais belo e acessÃvel filme: “A Favorita”, que chega essa semana aos cinemas.
Desde que o regime monárquico existe, existem com ele as brigas pelo poder e pela atenção de seus monarcas, através de tramoias pérfidas, sexo, dinheiro e jogadas polÃticas. O tÃtulo do filme já entrega que o fio condutor da trama é a disputa pelo favoritismo e afeto da Rainha Anne, e que disputa! Soberana do Reino Unido no começo do século 18 durante a guerra da Inglaterra com a França, a Rainha Anne (a estupenda Olivia Colman que rouba a cena do elenco que já é extraordinário) é uma glutona insegura e cheia de doenças que parece alienada a tudo o que ocorre no seu reino, numa decadência fÃsica e moral de dar pena. Ela é facilmente dominada e sugada emocionalmente por sua dama de companhia, Lady Sarah - vivida pela Rachel Weisz - de forma assustadora e seca, é ela quem manda e desmanda na Rainha e no reino, uma perfeita dama de ferro. A terceira peça nesse jogo é Abigail (Emma Stone, ótima!) prima de Sarah e nobre falida que chega para trabalhar como serviçal, e de cara já enxerga a oportunidade de tomar o lugar de honra ao lado da Rainha - ela é ambiciosa e não mede esforços pra conseguir o que quer. As rivais se enfrentam em batalhas engenhosas e diálogos afiados.
Enquanto a realeza e sua entourage se divertem com corridas de patos, coelhinhos fofos e banquetes nababescos, a população vive na miséria sustentando o luxo da corte e a guerra com impostos cada vez mais altos. E o Primeiro Ministro (Nicholas Roult, também incrÃvel) junto do Parlamento, tem de lidar com as oscilações da Rainha que fica feito peteca nas mãos das duas damas maquiavélicas e cruéis. A comparação com o memorável “Ligações Perigosas “ (drama de época clássico sobre maquinações na corte, de 1988) é inevitável, porém em “A Favorita “ a trama tem um viés de sátira mordaz à monarquia e seu estilo de vida, além de mais dinâmica na execução das artimanhas.
Visualmente o filme é deslumbrante, com figurinos e cenários primorosos que se misturam aos luxuosos tapetes Aubusson das paredes palacianas. Posicionamentos de câmera variam bastante, e há muitas tomadas ousadas onde se vê tudo em forma arredondada, o ângulo parece variar conforme a importância e emoção de cada personagem. E para finalizar, a trilha sonora é de chorar de linda. Um drama de época fino, hilário e deliciosamente diabólico.
Super Vale Ver !
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