PiTacO do PapO - 'Querido Menino' | 2019

NOTA 8.5

Um vício e uma jornada de amor e resiliência

Por Karina Massud @cinemassud

Ninguém escolhe ser dependente químico, acabar com a própria vida usando drogas, destruir carreira, relacionamentos e família. Mas quem é dependente PODE SIM escolher não sofrer mais, tentar vencer o vício e remendar todo o sofrimento causado pra si  e para todos ao redor.

“Querido Menino” é uma adaptação do livro de David Sheff, “Beautiful Boy: A Father´s Journey Through His Son´s Addiction” e narra o vício de seu filho Nic em metanfetamina e sua longa batalha contra ele. Steve Carell é David Sheff, escritor de artigos para a revista Rolling Stone e pro jornal NYT, ele é o pai ( e que pai!!) incansável, compreensivo e sofrido - seu sofrimento silencioso e sereno dói  no peito, deem um prêmio a esse ator!

Timothée Chamalet (de “Me Chame pelo Seu Nome”) está fabuloso como o garoto Nic, garoto esse que não tem motivos aparentes pra entrar no mundo das drogas:  tem uma vida estável, uma família que o ama, é inteligente, passou em várias faculdades...mas o vício e a sensação provocada pela droga são mais fortes que tudo. O ator foi esnobado pela Academia e não recebeu a merecida indicação ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. Que pena!

Todas as sequências, mesmo as de maior sofrimento, transcorrem de forma suave assim como a postura de David, que nunca se opõe a ir atrás do filho. Ele não desiste: interna Nic em clínicas caras, relê suas anotações, pesquisa e até experimenta a droga, tudo para descobrir onde errou (se é que errou). Os momentos de flashback são delicadíssimos, reforçando ainda mais o amor e união que existe naquela família: o nascimento dos filhos do segundo casamento de David e a ternura com que Nic os recebe, a cumplicidade entre pai e filho em tardes de surf e longas conversas sobre a vida. O filme não endeusa nem demoniza nenhum dos personagens, muito menos julga seus comportamentos, apenas mostra a luta árdua contra as drogas de forma nua e crua, e as sucessivas derrotas que dela vieram.

O título do filme se refere à música de autoria de John Lennon, “Beautiful Boy”, que David cantava nos momentos de medo do filho, aliás uma cena tocante onde é impossível conter as lágrimas. Um drama comovente de rachar até o mais forte dos corações.

Vale Ver !