PiTacO do PapO - 'Nós' | 2019
NOTA 9.0
“Portanto assim diz o Senhor: Eis que trarei mal sobre eles, de que não poderão escapar; e clamarão a mim, mas eu não os ouvirei.”
Por Vinícius Martins @cinemarcante
“Portanto assim diz o Senhor: Eis que trarei mal sobre eles, de que não poderão escapar; e clamarão a mim, mas eu não os ouvirei.”
Por Vinícius Martins @cinemarcante
A simbologia de 'Nós’ é grande o bastante para render horas de conversa, e tentar listar aqui a vastidão dos assuntos e interpretações possíveis é uma tarefa um tanto ingrata; todavia, há pontos que merecem um destaque e valem a menção, sem estragar a experiência de assistir ao filme e o gerar dos debates posteriores. O próprio título original, 'Us’ faz uma referência discreta direta a United States, os Estados Unidos, que são o grande cenário da história. A relação ao coletivo que o título evoca, colocando o público dentro desta primeira pessoa do plural, tem o propósito de tornar a história universal e, desse modo, alcançar a todos. E as mudanças dos personagens, que matam o eu e se redescobrem como assassinos de si mesmos, se fartam em linhas demasiado variadas com a pergunta “O que o diretor queria dizer com isso?”
O produtor, diretor e roteirista Jordan Peele insere elementos dos mais bizarros meios nos meios em que sua história se conduz, e geram nos espectadores interrogações sobre para o fim a que esses meios levam. A aparente desconexão inicial se costura no decorrer da narrativa e entrega, no fim, a premiada reviravolta. Porém, desta vez (falo por mim) o clímax foi previsível. Criou-se uma expectativa na cena dos espelhos, que foi quebrada no ponto de virada do primeiro para o segundo ato, e que depois foi reconstruída na cena final. Isso não tira em nada o mérito da experiência genial e incrível que é o desenvolvimento da obra, mas dá um gostinho de “eu estava certo, você falou que eu não estava, mas no fim eu estava mesmo”. Pode parecer confuso, mas talvez, ao assistir o filme, você entenda o que quero dizer.
Tecnicamente falando, o capricho de Peele neste novo filme é ainda maior. O excelente uso da trilha sonora, acompanhando os mistérios que se escondem nas sombras que a fotografia magistralmente revela aos poucos, é algo sublime em seu cerne. A alma do filme, se é que posso falar de alma, é a presença cativante e ameaçadora de Lupita Nyong'o e de sua família em todas as vertentes que se apresentam. Nenhum deles é o mesmo que se vê no começo do filme, principalmente a protagonista de Nyong'o. E a mescla de sensações e sentimentos que transbordam da tela revelam ainda mais o tato de Peele para o suspense, evidenciando sua presença em Hollywood e consagrando seu nome como um dos maiores dentre os diretores autorais da atualidade.
Sendo territorial, coletivo ou fantasiosamente conspiratório, a abrangência dos gêneros que 'Nós’ traz para o grande público é notável e igualmente louvável. Este é um filme que mexe com todos de maneira igual e nos leva a questionar a nossa existência e estilo de vida. Todos nós. Não há quem saia desse filme da mesma maneira que era antes; isso vale para personagens e para o público. E quem, no fim, somos realmente nós?
Super Vale Ver !
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