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PiTacO do PapO - 'O Anjo' | 2019

NOTA 8.0

Por Rafael Yonamine @cinemacrica


A ironia do título é incorporada com maestria pelo personagem principal. Baseado numa assustadora passagem verídica, “O Anjo” proporciona uma overdose de indiferença ao ilícito. De rosto e aparência angelical, com direito a cachos dourados e do ar inocente da pré-adolescência, Lorenzo Ferro representa o personagem principal Carlitos. A paradoxalidade entre o aspecto físico e comportamental é espantosa. O retrato recai no acompanhamento do hábito do protagonista em exercer sua natural delinquência materializada em roubos e homicídios. O termo “hábito” é apropriado visto que tudo transcorre em meio à ditadura argentina e sem motivações como a ambição financeira.


O diretor Luis Ortega, portanto, leva a representação da falta de pudor transgressora ao extremo. A prática de crimes hediondos, que por si já é revoltante, quando feita sem lastro de remorso passa a ser perturbadora. Nessa narrativa, passamos a conviver com essa sensação à medida que Carlitos parece se alimentar do prazer de delinquir. As representações são longes de serem monótonas, apesar de não rodar os 11 homicídios dos quais foi acusados, as sucessivas transgressões são construídas de forma a lapidarem novos contextos e reforçar a indubitável vocação criminal do personagem principal.

O aprofundamento psicológico também é rico. A exposição dos delitos não é gratuita, mas adicionam sucessivas camadas convergentes à indiferença ao mundo real. Carlitos transparece, por exemplo, desejos homossexuais por seu comparsa em meio a um tenso assalto a uma joalheria. Em outras ocasiões, o desapego encarna num corpo sádico que propositalmente causa acidentes que colocam em risco sua vida.

“O Anjo” é um exercício provocador onde o protagonista irá constantemente aparentar ter libido de situações em que o público estará se contraindo de tensão.


Vale Ver !


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