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PiTacO do PapO - 'A Grande Dama do Cinema' | 2019

NOTA 8.5

Por Rafael Yonamine @cinemacrica


Um exemplar para confortar os que esperavam por uma boa comédia. O premiado diretor Juan José Campanella confirma sua versatilidade. Após percorrer com êxito o drama e ganhar o Oscar baseando-se num suspense policial (“O Segredo dos Seus Olhos” -2009), chega a vez de nos apresentar uma comédia com igual competência. A curiosa proposta reside na relação de 4 personagens, agora na terceira idade, que quando jovens interagiram no meio cinematográfico argentino: um casal de atores, um diretor e um roteirista. O fato inusitado é que os colegas de longa data vivem juntos numa casa de campo. O aparente equilíbrio sofre oscilações quando um casal de corretores acidentalmente chegam à casa e demonstram interesse em persuadir a atriz a vendê-la.


O olhar crítico inflexível pode considerar o roteiro como uma absurda sucessão de fatos inverossímeis. Apesar dessa avaliação ter algum fundamento, o objetivo é claramente tornar o absurdo como um elemento funcional a favor da comédia. O resultado é brilhante, a proposição do improvável, quando aliada a criatividade, é irresistível. Para a nossa infelicidade, essa execução não conjuga com o que estamos acostumados a amargar nas telas nacionais onde a comédia é vítima do caricato disfuncional. De um lado temos o absurdo criativo, do outro o escrachado infértil.

A dinâmica é baseada em diálogos imprimidos numa cadência precisa. Não há morosidade didática, tampouco afobação. O quarteto afiado é pautado por textos de altíssima qualidade que não poupam tiradas ácidas. Esse, aliás, é o principal elemento cômico. Pode-se dizer que Campanella adota-o com certo abuso, sobra pouco espaço para outras variações do gênero.

O toque de elegância é o objeto escolhido para derivar as sucessões de episódios improvavelmente cômicos: os vícios humanos. Da atriz extrai-se elementos como a vaidade, da dupla diretor-roteirista a vingança e o egoísmo, do casal misterioso a ganância e a desonestidade. É admirável a habilidade com que Campanella faz humor com hipérboles do que há de pior na nossa espécie.

A comédia respira.

Vale Ver! 


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