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PiTacO do PapO - 'Kardec' | 2019

NOTA 6.5

Por Rafael Yonamine @cinemacrica


Crenças à parte, o fato é que o espiritismo é uma religião com um número considerável de adeptos e, pela recência, tem registros mais detalhados que as demais doutrinas de massa como o Cristianismo. Tema interessante, socialmente relevante e passível de enriquecimento considerando o campo cinematográfico. Como é de se esperar, o foco não poderia ser outro que não em Allan Kardec, ou ainda, Hippolyte Léon Denizard Rivail, seu nome verdadeiro até a publicação do Livro dos Espíritos. As obviedades passam a se atenuar na medida em que é necessário selecionar recortes precisos de uma biografia complexa.


As escolhas acabaram sendo pretensiosas e reduziram o filme a uma jornada rasa. Emprega-se energia no desenvolvimento do processo, mas pouco se aprofunda no personagem central. A trama tem como início a preocupação em caracterizar o protagonista como uma figura de perfil acadêmico e desapegado de dogmas. Para isso, recorre à discordância radical do ensino não laico e a participação numa espécie de associação de intelectuais. Partindo daí, passando pela flexibilização da razão e desembocando na convicção de que o sobrenatural tem influência sobre o mundo real, o roteiro pinça diversos episódios sucintos que apenas ilustram o ponto narrativo específico. A sensação é de que estamos percorrendo uma lista de checkpoints de fatos encadeados cronologicamente. Não há engenhosidade de roteiro nem uma análise psicológica atenciosa para um personagem que deveria estar num raro estado de efervescência mental.

Isso também fica evidente ao propor o simples exercício de discriminar o principal foco de conflito narrativo. Seria o clero conservador?  O poder público omisso? Os espíritos maus? O próprio conflito mental de Kardec? A cisão da comunidade científica? O desafio da criação de um método racional para explicar o sobrenatural? São muitas escolhas e poucas explicações.

De qualquer forma, é preciso destacar o design de produção claramente acima da média do cinema nacional. Cenografia, figurinos e fotografia de altíssimo nível. Não são o bastante para salvar a obra, mas a torna digna de ser vista caso o tema interesse.


Vale Ver Mas Nem Tanto !


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