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Especial: Michael Jackson e o Cinema

Por Vinícius Martins @cinemarcante


Onde você estava quando soube que Michael Jackson tinha morrido? É bem provável que você consiga se lembrar facilmente, caso na época já tivesse idade suficiente para entender o que tinha acontecido. Todos os canais televisivos noticiavam e comentavam o fato com coberturas massivas e incessantes, revirando arquivos de vídeo e todo o histórico do artista caricato e polêmico que Jackson tinha se tornado. Um momento tão impactante para a cultura mundial tende a ficar marcado na memória, assim como o 1º de Maio de 1994, que nos levou Ayrton Senna. Em 25 de Junho de 2009, há exatamente dez anos, a quinta-feira aparentemente comum que era aquele dia entrou para a história de uma maneira infeliz, pois o mundo se deparava com a manchete bombástica e inesperada que noticiava a morte de um ícone da música pop. E hoje, uma década após a sua suposta morte, ainda há quem diga que ele não morreu, e teorias surgem de tempos em tempos sobre o possível paradeiro de Michael em uma crença de que ela ainda esteja vivo, apontando que ele ainda pode estar entre nós ou, quem sabe, ter viajado como agente da MIB para algum outro planeta.


Para comemorar o décimo aniversário da morte do Rei do Pop (ok, assumo que “comemorar” não é a palavra mais adequada, mas na ausência de uma melhor vai essa mesmo; pensei em “celebrar”, “homenagear”, e “reviver”, mas todas me pareceram igualmente estranhas), vamos relembrar a passagem de Michael Jackson pelas telonas, tanto em atuações e participações especiais em filmes como também em documentários e paródias dos escândalos que cercavam sua figura.


➧ OS FILMES

Michael fez sua estreia no cinema em 1978, no filme ‘O Mágico Inesquecível’, onde interpretou o espantalho do clássico ‘O Mágico de Oz’ em uma versão black; Diana Ross interpretou a Dorothy. Depois disso teve seu grande momento em 1988, no auge da carreira, com ‘Moonwalker’, filme que ele estrelou, roteirizou, produziu e co-dirigiu ao lado de outros quatro diretores. Em 1997 chegou aos cinemas ‘Michael Jackson’s Ghosts’, com o roteiro de Stephen King e do próprio Michael, que também foi o produtor musical do longa ao lado de Nicholas Pike.


Seu último filme em vida foi lançado em 2004, e no Brasil chegou ao mercado com o nome de ‘Missão Quase Impossível’ (não confunda com o filme estrelado por Jackie Chan em 2010); mas ganhou algumas edições com o título traduzido como ‘Miss Naufrágio’ - o nome original do longa em inglês é ‘Miss Castaway And The Island Girls’, quase como que uma paródia ao filme ‘Náufrago’, de Robert Zemeckis.

Michael fez uma participação especial no filme ‘MIB: Homens de Preto II’, onde aparece pedindo para se tornar o Agente M. Além dessa pequena participação, MJ foi a estrela de um filme especial para os parques temáticos da Disney nos anos 80 (mais precisamente entre 1986 e 1990), chamado ‘Captain EO’, dirigido por ninguém menos do que Francis Ford Coppola e roteirizado pelo saudoso George Lucas. Esse especial, que é considerado o primeiro filme 4D da história, não chegou aos cinemas em circuito comercial, foi reproduzido apenas nos parques Disney, e voltou a ser exibido em 2010, após a morte do astro. Para este média-metragem de 17 minutos, Michael também foi o coreógrafo em um trabalho conjunto com Jeffrey Hornaday.

➧AS PARÓDIAS

Muito antes da internet virar febre, lá no começo dos anos 2000, o cinema já não perdoava e tirava sarro de diversas figuras importantes; entre elas, é claro, Michael Jackson. Geralmente tendo a imagem difamada em comédias idiotas e filmes B, Jackson “apareceu” por vezes em produções de humor bem questionável, mas também em alguns momentos bem oportunos que surfaram na maré de escândalos acerca das acusações de pedofilia que surgiram contra o Rei do Pop.


Quem já assistiu aos filmes da franquia ‘Todo Mundo em Pânico’ provavelmente deu risadas na aparição do Michael Jackson alienígena no terceiro filme, que foi revelado após o personagem de Charlie Sheen puxar o lençol que o cobria. A luta bizarra que se segue, com chutes no saco e coreografias típicas de Jackson, resulta em uma queda pela janela do quarto em que, para a surpresa de todos, o nariz de Michael fica grudado na mão de Sheen. Há também a zoeira de ‘Todo Mundo em Pânico 4’, onde Michael aparece tentando aliciar crianças para seu “esconderijo seguro” enquanto fogem de um ataque dos Tripods de ‘Guerra dos Mundos’. Sua figura também fez uma ponta no filme ‘Super-Heróis: A Liga da Injustiça’, que é um dos filmes mais desnecessários que lembro de ter visto, em uma música estúpida onde os personagens que foram parodiados pela produção cantam sobre quem está pegando quem.

Porém, dentre as que tenho memória, a mais forte e mais pesada de todas as zoeiras foi uma brasileira, vista no nacional ‘Casseta & Planeta: Seus Problemas Acabaram’, que chegou aos cinemas pouco depois da morte de Bussunda. Nesse filme Michael aparece em uma breve animação, no meio do longa, quando o Doutor Botelho Pinto, personagem de Murilo Benício, conta a história de um trauma antigo vivido na infância. Na cena em questão, o Doutor Botelho explica que cresceu em um orfanato que era comandado pelo Frei Jackson. A cena mostra Jackson nu na cama com crianças (coberto por uma manta, é claro - mas não escondendo a ereção que crescia por baixo dela) e segue com Jackson se masturbando em uma banheira enquanto o pequeno Botelho brinca com um barquinho de papel; com o surgimento de um incêndio, o Frei Jackson pede para que Botelho se proteja das chamas debaixo d’água, respirando por um “canudo”, em uma clara insinuação de que Jackson induzia crianças à prática de sexo oral nele. A cena é forte, mesmo para um desenho cartunesco.


➧ DOCUMENTÁRIOS

Por falar em pedofilia, um documentário recente coloca toda a imagem de Jackson em xeque ao expor relatos pessoais das possíveis vítimas de seus supostos abusos sexuais. Se chama ‘Leaving Neverland’, que em uma tradução livre significa ‘Deixando a Terra do Nunca’, em referência ao famoso sítio do cantor. A extensa duração do filme (03h56min) talvez provoque desânimo aos que preferem a praticidade; no entanto, o documentário se faz útil e necessário para promover uma redefinição à imagem da estrela que Michael Jackson é até os dias de hoje. Claro, tratam-se de testemunhos e especulações, mas todos ganham corpo e tornam-se críveis a cada nova revelação sobre a intimidade do músico que começou sua carreira com a família, no grupo ‘Jackson’s Five’.


Entre os documentários póstumos que exaltam a figura de Michael, o mais notável é e famoso é, sem sombra de dúvidas, aquele que trouxe os bastidores de sua turnê inédita, ‘This Is It’. O longa, dirigido por Kenny Ortega (o mesmo cara que pariu a trilogia ‘High School Musical’), chegou aos cinemas apenas alguns meses após a nota de falecimento de MJ, a princípio com a promessa de ficar disponível às telonas pelo tempo limitado de duas semanas. A exibição do documentário foi um sucesso tão grande e tão lucrativo que, por puro “amor aos fãs”, o prazo foi prolongado. Além deste, outros documentários ganharam os fãs: ‘Michael Jackson: The Last Photo Shot’, ‘Bad 25’ e ‘Michael Jackson’s Journey from Motown to Off The Wall’, sendo esses dois últimos dirigidos por Spike Lee.


➧ O LEGADO

O artista, famoso por tratar seus videoclipes como superproduções de Hollywood, inegavelmente transformou o mundo do entretenimento e da mídia audiovisual com a inserção de efeitos visuais de ponta que o cinema veio a copiar posteriormente. A relação de Michael Jackson com o cinema não se limitava às suas aparições, uma vez que ele era um amante declarado da sétima arte. Hoje, com sua imagem variando entre gênio e louco, médico e monstro, e artista e depravado, Michael Jackson e suas muitas faces persistem na memória coletiva e no mundo popular na música e no cinema. Seu legado permanece, para o bem ou para o mal, e seus atos - questionáveis ou não - ainda renderão muitos debates.

Mas em uma coisa todos concordam: Michael Jackson segue mais vivo do que nunca.



'Papo de Cinemateca - Muito Cinema pra Todo Mundo'

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