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PiTacO do PapO - 'Dor e Glória' | 2019

NOTA 9.0

Por Rogério Machado



"Eu sou dono de minhas histórias e imponho meu universo com todo o orgulho e toda a prepotência que isso outorga", disse Almodóvar à imprensa espanhola. Muito embora o emblemático cineasta espanhol negue que seu 'novo filho' seja uma autobiografia, não dá pra não perceber um paralelo nas referências ao diretor milimetricamente usadas na película. 'Dor e Glória' ,  trabalho celebrado em Cannes e tido como o mais intimista de Almodóvar, é fluido e possui uma delicadeza poucas vezes vista em sua filmografia. 


Na história  Antonio Banderas é Salvador Mallo, um melancólico cineasta em declínio que se vê obrigado a pensar sobre as escolhas que fez na vida, já que seu passado sempre retorna através de memórias da infância, e sua saúde já se encontra abalada com o avanço da idade e com os anos possivelmente desregrados de uma celebridade do cinema. Entre lembranças e reencontros, ele reflete sobre o relacionamento com sua mãe, Jacinta (Penélope Cruz), seu processo de imigração para a Espanha na década de 60, seu primeiro amor maduro e sua relação com a escrita e com o cinema.

Desde os primeiros minutos de exibição já sentimos uma pegada em tom mais baixo - nada é over, nada é grandiloquente, personagens extravagantes e texto vociferado com potência não tem lugar aqui. Salvador Mallo é introspectivo, tem um 'q' de insegurança em função das doenças que tomaram conta dele com o avançar dos anos e da culpa por não ter sido o filho que sua mãe esperava que ele fosse. Porém, algumas características marcantes na filmografia do cineasta estão lá, como o uso de cores quentes - sobretudo o vermelho - em detalhes na cenografia e no figurino, revelam que Almodóvar tem predileções que nunca serão abandonadas, e sem querer, nos damos conta que amamos isso. Por menor que seja uma marca deixada, ela está lá para saciar os fãs mais inveterados. 

Biográfico ou não, 'Dor e Glória' conquista justamente pela simplicidade na construção de sua espinha dorsal, o roteiro. A história em questão nada mais é do que uma jornada de autoconhecimento e descoberta do desejo, e mais tarde, o ajuste de contas consigo mesmo - de um homem que se reconhecia como um mero mortal, ainda que tivesse o mundo do entretenimento aos seus pés. Que reconhece que seu corpo, as pessoas, que as coisas mudam e o remédio é se adaptar.  Passado e presente se entrelaçam na narrativa através dessas memórias que vão revelando todas as nuances desse personagem, que seguem conquistando o espectador no decorrer da trama, mesmo com todos os desvios de caráter e erros cometidos. 

A cereja do bolo vem no minuto final, que mostra porque Almodóvar ainda é uma das lendas vivas do cinema mundial - simplicidade e genialidade nunca estiveram tão misturados. 


Super Vale Ver !


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