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PiTacO do PapO - 'Graças a Deus' | 2019

NOTA 9.0

Por Rogério Machado 


O tema pedofilia na igreja católica já não é novidade no cinema. 'Spolight : Segredos Revelados', vencedor de seis Oscar (inclusive o de Melhor Filme) em 2016, trazia os horrores dessa prática aparentemente comum entre o clérigo Católico Apostólico, desvendados por uma equipe de jornalistas investigativos do Boston Globe, nos EUA. Agora é a vez de François Ozon deixar sua marca sob essa mesma temática, (segundo ele uma 'ficção baseada em fatos reais'), de um caso ocorrido entre os anos 80 e 90 em Lyon,  na França.  


Na história,  somos apresentados a Alexandre (Melvil Poupaud), que em determinado momento, toma coragem para escrever uma carta à Igreja Católica, revelando um segredo: quando era criança, foi abusado sexualmente pelo padre Preynat (Bernard Verley). Os psicólogos da Igreja tentam ajudar, mas não conseguem ocultar o fato de que o criminoso jamais foi afastado do cargo, pelo contrário: ele continua atuando junto às crianças de uma comunidade escolar. Alexandre então acaba tornando pública  sua carta, o que logo faz aparecerem muitas outras denúncias de abuso, feitas pelo mesmo padre, além da conivência do cardeal Barbarin (François Marthouret), que sempre soube dos crimes, mas nunca tomou providências. Juntos, Alexandre, François (Denis Ménochet) e Emmanuel (Swann Arlaud) criam um grupo de apoio para aumentar a pressão na justiça por providências. Mas eles terão que enfrentar todo o poder da cúpula da Igreja.

Dono de uma filmografia muito expressiva e respeitada, não só no cinema francês como no cinema mundial, Ozon costuma aproximar muito o público de seus personagens - nitidamente por valorizar muito as relações interpessoais e os mistérios que envolvem os segredos desses relacionamentos. Em 'Graças a Deus' ele mostra coragem ao desvendar o lado sombrio da alma humana através desses casos reais de pedofilia que estima-se terem feito mais de 80 vítimas. O caso que recentemente fez seu primeiro réu, o Cardeal Philippe Barbarin, coloca às claras o tema, que de maneira didática se torna um manifesto contra a prática, e o pior, do acobertamento dela pela igreja. Ozon é cirúrgico. Não contextualiza e dá um tom documental muito atraente ao longa.

Por ser enfático no discurso, o filme teve problemas para ver a luz do dia: sua estreia no Festival de Berlim quase não aconteceu por conta da ação dos advogados de defesa do padre Preynat. 'Graças a Deus' é polêmico, mas é também um alerta, é daqueles grandes trabalhos no cinema que se tornam muito mais que um simples filme, se transformam em instrumento de luta social. 


Super Vale Ver !


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