PiTacO do PapO - 'Noite Mágica' | 2019

NOTA 8.0

Por Rafael Yonamine @cinemacrica

Se o cinema norte-americano acaba de ser contemplado com uma bela homenagem de Tarantino, os italianos também foram presenteados com uma obra à altura. “Noite Mágica”, que também apresenta esforços metalinguísticos, faz apaixonadas referências ao cinema italiano no que pode ser considerada sua fase mais relevante historicamente, o neorrealismo. Nessa imersão cinematográfica, o esmiuçamento do passado glorioso tem como ponto de partida a investigação da morte de um importante produtor de cinema. Colocados na cadeira de depoimento da delegacia, os 3 principais suspeitos resgatam as memórias de eventos que antecederam a fatalidade.

Não é difícil relembrar das andanças noturnas no centro de Roma também vistas em “A Doce Vida” ou os momentos de intimidade de “Os Sonhadores”. Além desses paralelos explícitos das obras de Fellini e Bertolucci, o desenrolar da trama faz menções a outros grandes nomes como Scola, Rossellini e até mesmo ao ator Marcello Mastroianni. Mais do que mencionar, mesmo que superficialmente, o diretor Paolo Virzì aproxima os protagonistas da sua ficção a essas figuras clássicas. A “desculpa” dessa coexistência é que os personagens são roteiristas de cinema. Ao participarem de uma competição desse atributo cinematográfico, os protagonistas se conhecem e percorrem, cada um à sua maneira, experimentações da produção profissional de cinema.

Considero que o objetivo do diretor resida justamente nesse detalhe: enaltecer atos em detrimento de se aprofundar em individualidades. Apesar ser minimamente caracterizada, a profundidade psicológica não é o foco. Virzì busca, através do encadeamento de atos dinâmicos, recriar o processo criativo da construção de um filme. Apesar de ser frenético em alguns momentos, o que prevalece é o desejo contínuo de deliciar a próxima passagem vivida por um ou mais dos 3 protagonistas. Os pequenos relatos transitam entre o cômico e dramático e não erram em serem repetitivos.

“Noite Mágica” é uma experiência imersiva que celebra o cinema italiano a partir dos seus bastidores. A fotografia amarelada é só um dos elementos que tornam o processo viciante.

Vale Ver !