PiTacO do PapO - 'Bacurau' | 2019
NOTA 9.0
Por Sérgio Ghesti @meuhype
Realizar cinema no Brasil é sim resistência. Em um paÃs onde são necessárias inúmeras parcerias e patrocinadores para se gerar um filme, onde o atual governo é contra a liberdade de expressão artÃstica, e ainda temos uma população desinformada que acha o cinema feito aqui ruim pelo simples preconceito da produção local. 'Bacurau' vem de uma parceria franco-brasileira, e dentro desse cenário bastante tenso, - onde produções independentes estão sendo praticamente extintas sem nenhuma lei de incentivo -, mostra que existe um cinema atrativo que vem da mistura de estilos e de gêneros, passa pelo drama, faroeste, terror, gore, fantasia e ficção CientÃfica.
Com uma trajetória relativamente brilhante fora do Brasil, incluindo a premiação do Júri (Jury Prize) no renomado Festival de Cannes na França esse ano,o longa também venceu recentemente o Festival de Lima no Peru, além de participações em outros festivais, isso com uma história corajosa e estranha que celebra a criação, a famÃlia, a casa, a terra, seja em diversidade ou comunidade. Esses princÃpios estão cada vez mais ameaçados, seja no Brasil ou no mundo, aliado a sede do imperialismo, da polÃtica do ódio e da violência disfarçada de diversão, assim, seus realizadores protestaram contra o governo brasileiro em Cannes. Um dos motivos de 'Bacurau' sofrer duras crÃticas de movimentos de direita no paÃs, mesmo sem essas mesmas pessoas terem visto o filme, promovendo ameaças até de boicote. Mesmo assim, o filme chega ao Brasil, com uma explosão de sentimentos e sensações em um cinema cheio de camadas e de caminhos para uma reflexão.
Na trama, pouco após a morte de dona Carmelita, aos 94 anos, os moradores de um pequeno povoado localizado no sertão brasileiro chamado Bacurau, descobrem que a comunidade não consta mais em qualquer mapa. Aos poucos, percebem algo estranho na região: enquanto drones passeiam pelos céus, estrangeiros chegam à cidade pela primeira vez. Quando carros se tornam alvos de tiros e cadáveres começam a aparecer, Teresa (Bárbara Colen), Domingas (Sônia Braga), Acácio (Thomas Aquino), PlÃnio (Wilson Rabelo), Lunga (Silvero Pereira) e outros habitantes, chegam à conclusão de que estão sendo atacados. Falta identificar o inimigo e criar coletivamente um meio de defesa.
Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles fazem do filme um western "moderno" e ácido representado pelos moradores da cidade pernambucana e sua diversidade de estilos em um grupo que luta contra os forasteiros que desejam prejudicá-los. As referências têm frescor. O filme, independente de suas inspirações tem originalidade, Kleber tem uma firme consistência adquirida em seus filmes anteriores com a presente celebração dos laços, vista em 'Aquarius' (2016) ou como em 'O Som ao Redor' (2012). O filme grita e se comunica com o público, seja pelo retrato do nordeste quente, pobre e simples , ou do estudo da civilização social seja ela regional, contaminada por polÃticas públicas defasadas e o desdém das metrópoles pelas comunidades rurais, ou até mundial, com o desprezo que os estrangeiros tem pelos "latinos", que incluem obviamente o Brasil. (Os estrangeiros são retratados de maneira caricata e repleta de esteriótipos quase que rebatendo como os brasileiros são retratados pelo cinema americano na maioria das vezes). O mundo muitas vezes engole princÃpios básicos de sociedade, e o mais desafiador é visto nos tipos esquecidos que lutam para sobreviver em um paÃs que se move rapidamente para longe deles, vistos como uma inconveniência, moeda de troca e só lembrados na época das eleições por polÃticos interesseiros. Os personagens possuem linhas onde não há definição de bom ou mau - a sexualidade explode em várias cenas de nudez além de tudo acontecer sem nenhum tipo de hipocrisia -, a realidade é exposta e entregue em sua mistura: em tela temos crianças, idosos, transexuais, prostitutas, gays, negros, brancos em uma profusão de diversidade difÃcil de se ver em qualquer produção.
A história se passa no futuro e ele não é deslumbrante como imaginamos... e inspira a selvageria. O ritmo lento inicial da produção prepara o terreno desde o começo, conhecendo o ambiente em que se pisa, sendo essencial em qualquer história de vÃnculo, entender o perigo mesmo quando zombam do espectador com brincadeiras envolvendo bruxaria, OVNIs e a praticidade da comunicação via internet. O embate final traz surpresas sanguinolentas. Este pode não ser o filme que você espera do diretor de dramas de arte voltados para a vida moderna e urbana do Brasil, mas se encaixa como uma variação dos temas controversos que precisamos debater, tem pegada independente em toda sua proposta, lembra produções de suspense dos anos 90. Um filme necessário e conflitante com a zona de conforto do espectador, vá preparado para uma experiência perturbadora e com a mente aberta para viver momentos de frenesi cinematográfico.
Com uma trajetória relativamente brilhante fora do Brasil, incluindo a premiação do Júri (Jury Prize) no renomado Festival de Cannes na França esse ano,o longa também venceu recentemente o Festival de Lima no Peru, além de participações em outros festivais, isso com uma história corajosa e estranha que celebra a criação, a famÃlia, a casa, a terra, seja em diversidade ou comunidade. Esses princÃpios estão cada vez mais ameaçados, seja no Brasil ou no mundo, aliado a sede do imperialismo, da polÃtica do ódio e da violência disfarçada de diversão, assim, seus realizadores protestaram contra o governo brasileiro em Cannes. Um dos motivos de 'Bacurau' sofrer duras crÃticas de movimentos de direita no paÃs, mesmo sem essas mesmas pessoas terem visto o filme, promovendo ameaças até de boicote. Mesmo assim, o filme chega ao Brasil, com uma explosão de sentimentos e sensações em um cinema cheio de camadas e de caminhos para uma reflexão.
Na trama, pouco após a morte de dona Carmelita, aos 94 anos, os moradores de um pequeno povoado localizado no sertão brasileiro chamado Bacurau, descobrem que a comunidade não consta mais em qualquer mapa. Aos poucos, percebem algo estranho na região: enquanto drones passeiam pelos céus, estrangeiros chegam à cidade pela primeira vez. Quando carros se tornam alvos de tiros e cadáveres começam a aparecer, Teresa (Bárbara Colen), Domingas (Sônia Braga), Acácio (Thomas Aquino), PlÃnio (Wilson Rabelo), Lunga (Silvero Pereira) e outros habitantes, chegam à conclusão de que estão sendo atacados. Falta identificar o inimigo e criar coletivamente um meio de defesa.
Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles fazem do filme um western "moderno" e ácido representado pelos moradores da cidade pernambucana e sua diversidade de estilos em um grupo que luta contra os forasteiros que desejam prejudicá-los. As referências têm frescor. O filme, independente de suas inspirações tem originalidade, Kleber tem uma firme consistência adquirida em seus filmes anteriores com a presente celebração dos laços, vista em 'Aquarius' (2016) ou como em 'O Som ao Redor' (2012). O filme grita e se comunica com o público, seja pelo retrato do nordeste quente, pobre e simples , ou do estudo da civilização social seja ela regional, contaminada por polÃticas públicas defasadas e o desdém das metrópoles pelas comunidades rurais, ou até mundial, com o desprezo que os estrangeiros tem pelos "latinos", que incluem obviamente o Brasil. (Os estrangeiros são retratados de maneira caricata e repleta de esteriótipos quase que rebatendo como os brasileiros são retratados pelo cinema americano na maioria das vezes). O mundo muitas vezes engole princÃpios básicos de sociedade, e o mais desafiador é visto nos tipos esquecidos que lutam para sobreviver em um paÃs que se move rapidamente para longe deles, vistos como uma inconveniência, moeda de troca e só lembrados na época das eleições por polÃticos interesseiros. Os personagens possuem linhas onde não há definição de bom ou mau - a sexualidade explode em várias cenas de nudez além de tudo acontecer sem nenhum tipo de hipocrisia -, a realidade é exposta e entregue em sua mistura: em tela temos crianças, idosos, transexuais, prostitutas, gays, negros, brancos em uma profusão de diversidade difÃcil de se ver em qualquer produção.
A história se passa no futuro e ele não é deslumbrante como imaginamos... e inspira a selvageria. O ritmo lento inicial da produção prepara o terreno desde o começo, conhecendo o ambiente em que se pisa, sendo essencial em qualquer história de vÃnculo, entender o perigo mesmo quando zombam do espectador com brincadeiras envolvendo bruxaria, OVNIs e a praticidade da comunicação via internet. O embate final traz surpresas sanguinolentas. Este pode não ser o filme que você espera do diretor de dramas de arte voltados para a vida moderna e urbana do Brasil, mas se encaixa como uma variação dos temas controversos que precisamos debater, tem pegada independente em toda sua proposta, lembra produções de suspense dos anos 90. Um filme necessário e conflitante com a zona de conforto do espectador, vá preparado para uma experiência perturbadora e com a mente aberta para viver momentos de frenesi cinematográfico.
Super Vale Ver !
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