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PiTacO do PapO - 'O Último Homem Negro em São Francisco' | 2019

NOTA 8.5

Por Rogério Machado


Um dia como qualquer outro você se levanta, cumpre sua rotina, mas decide que precisa fazer algo mais corajoso do que somente perseguir o trivial, o básico. Correr atrás dos sonhos? Fazer voltar o passado? Isso não parece um desejo distante para o protagonista do filme dirigido por Joe Talbot , que toma as rédias de sua vida com tamanha voracidade que chega a parecer infactível ou insano. 'O Ultimo Homem Negro em São Francisco', sucesso estrondoso no Festival de Sundance esse ano, com uma linguagem muito própria, nos diz sobre retomar a vida e ocupar espaços. 


A produção  estrelada por  Jimmie Fails  acompanha Jimmie,  um jovem que faz de tudo para tentar recuperar a casa em estilo vitoriano construída por seu avô, no coração da cidade de São Francisco. E à medida que ele embarca em uma jornada para recuperar seu lugar na cidade, hoje dominada pela gentrificação e por milionários, Jimmie convive com uma ansiedade terrível, motivada pela forma como sua terra natal tem perdido sua essência e tem se transformado, a ponto de tratá-lo como alguém que já não pertence mais àquele lugar onde cresceu. São Francisco definitivamente não é a mesma cidade de quando seu avó chegou naquele lugar há muitos anos atrás. 

Quase um sem-teto, Jimmie, que trabalha como assistente de uma casa de repouso, está temporariamente no apartamento de seu melhor amigo, Montgomery "Mont" Allen (Jonathan Majors), que é deficientemente convertido. Mont é um dramaturgo que luta por trás de um balcão de peixes enquanto cuida de seu velho avô Allen (Danny Glover). É Mont quem estará sempre ao lado dele e embarcará nesse sonho (im)possível do rapaz. 

Talbot constrói uma imagem disruptiva da cidade diante do público. Sempre nos acostumamos a ver na dramaturgia uma São Francisco colorida e solar, mas desta vez a narrativa , que se passa nas franjas da cidade, é a sujeira do rio, o ônibus sempre atrasado ,  a violência e o céu quase sempre cinza, que ganham destaque e ajudam a contar esse drama que muito sutilmente aborda o preconceito da sociedade americana e de como os negros ficaram relegados às margens, moram na cidade mas é como senão fizessem parte dela... expatriados em plena pátria. 

A famosa canção de Scott Mckanzie, que inclusive embala a trilha, ressalta ainda mais o contraste pretendido por Talbot, que constrói uma narrativa que  alia-se à uma roupagem muito original. É cinema de vanguarda, mas com mensagem sem rodeios. A fotografia e o design de produção arrematam o bom nível dessa produção que não tem data prevista para chegar por aqui. Se é que podemos falar de ausências em um filme de tal temática, eu ressaltaria a falha na abordagem da família de Jimmie. Nossa empatia pelo personagem só não é maior pois faltou introduzir com maior propriedade a vida pregressa desse homem. 


Vale Ver !


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