Adsense Cabeçalho

PiTacO do PapO - 'A Tabacaria' | 2019

NOTA 7.5

Por Rafael Yonamine @cinemacrica


A morte do parceiro de Margarete altera a dinâmica familiar. A fatalidade força a ida do filho de 17 anos do interior austríaco para Viena. O jovem, Franz, recorre ao único contato que a mãe possuía, no caso, uma modesta tabacaria. Esse é o comércio onde ele passa a ser funcionário aprendiz e também a chamar de lar. Paralelamente à nova rotina, Franz amadurece forçosamente frente a alguns fatos pessoais e históricos. Na esfera particular, amolece a relação com o proprietário da tabacaria, aparentemente turrão, mas pertencente ao “time do bem”. Ao mesmo tempo, dá vazão ao balanço hormonal adolescente-jovial concretizado numa polêmica figura local. E, para intensificar o processo de descobertas, ninguém menos que Freud figura na agenda do garoto já que é um cliente da tabacaria. No contexto histórico, temos a ascensão nazista e as primeiras investidas em países vizinhos como a Áustria.


Esteticamente é um filme bastante atraente. A fotografia de bom gosto não depende apenas do bom design de produção que recria a Viena de 1930 com capricho. Mas, o olhar diferenciado já se manifesta nos primeiros planos do filme que se passam numa cidade interiorana. A qualidade da captura das sequências na chuva, por exemplo, são belíssimas. “A Tabacaria” consegue se firmar como registro histórico de forma elegante. Apesar de usar um didatismo excessivo para o micro universo dos personagens, a tensão do momento pré-guerra tem sinais inteligentemente contextualizados como os tipos de jornais ofertados e demandados pelos habitantes da capital: é possível, a partir do consumo dessa mídia, identificar padrões libertários e fascistas, tanto do ponto de vista de consumo como de venda. Também é doce o retrato do amadurecimento de um garoto interiorano que é submetido a vetores tão intensos como a ameaça alemã e o convívio com Freud.

A fragilidade reside justamente no desenvolvimento atrofiado dessa relação com o lendário psicanalista e os vetores dramáticos paralelos. A forma com que Freud foi inserido na narrativa, praticamente um conselheiro que já recomendava elementos da psicanálise como o registro de sonhos, não satisfaz a responsabilidade reivindicada. Tanto porque Freud não é um personagem de passagem, o que demanda um mínimo de profundidade; como pela consequente responsabilidade de amarrar de forma prática o resultado dos conselhos, o que não acontece.


Vale Ver !


Nenhum comentário