PiTacO do PapO - 'Indústria Americana' | 2019
NOTA 7,5
Capitalismo e choque de culturas
Por Karina Massud @cinemassud
Em 2008, com a crise econômica que assolou os EUA, muitas empresas fecharam as portas deixando milhões de desempregados por todo o país, gente que perdeu a casa e a dignidade. Uma dessas empresas foi a fábrica de carros da General Motors em Dayton, estado de Ohio, deixando 10 mil desempregados.
Em 2010 os moradores da cidade tiveram uma grata surpresa quando foi anunciado que a fábrica reabriria com a direção do grupo chinês Fuyao, fabricante de vidros para carros. A princípio respiraram aliviados mas nem tudo foi a maravilha que imaginavam : a hora trabalhada que antes era de U$19 passou para U$14, era pegar ou largar! Sem sindicato ou segurança no trabalho e com horas extras obrigatórias: práticas comuns na China que a empresa quis impor na fábrica americana. Junto ao salário despencaram a qualidade do produto e a satisfação dos empregados.
A disputa comercial EUA X China é feroz e invariavelmente injusta. A China invadiu o planeta com produtos diversos a preços baixos e sem concorrência devido à mão de obra baratíssima. O choque cultural se dá entre funcionários americanos e administração chinesa que não entram num acordo sobre a condução do trabalho na Fuyao.
“Indústria Americana”, documentário fruto da parceria da Netflix com a produtora Higher Ground (do ex-presidente americano Barack Obama e sua esposa Michelle) foca nesse choque de culturas, mostrando os dois lados da moeda capitalista: o capitalismo americano que visa qualidade dos produtos feitos por trabalhadores protegidos por leis e uma linha de fabricação humana; e o chinês que é interessado em lucro a todo custo, sugando ao máximo os trabalhadores em condições de trabalho desumanas e miseráveis ( o que mais parece com comunismo, vale dizer).
A narrativa do documentário é linear e vai tratando das diferenças dos dois povos de maneira suave, há amizade e interação entre os americanos e chineses. Mostra a ida dos executivos americanos para a China, o empresário Cao visitando a fábrica e finalmente o centro de toda a discussão: a votação para decidir se a Fuyao nos EUA teria sindicato dos trabalhadores – é aí que o clima fica tenso. Não é mera picuinha patrão X empregados, é uma questão pertinente e tratada de forma que envolve. A trama falha apenas em mostrar o problema da substituição da mão-de-obra humana por maquinário, assunto interessante mas deslocado em meio ao tema central.
O documentário é parcial e mostra o empresário chinês como destruidor do sonho americano e os chineses como soldados submissos que não tem direito a reivindicar nada, somente trabalhar de sol a sol a preço de banana. Está respondido porque os chineses estão dominando o mundo.
Vale Ver !
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