PiTacO do PapO - 'Vision' | 2019

NOTA 5.0

Por Rafael Yonamine @cinemacrica 

Essa parece ser uma investida da diretora Naomi Kawase em manter viva a funcionalidade da contemplação vista em "Esplendor" (2017). Na sua obra anterior, a execução primorosa de fato integrava a empatia do espectador com as construções não verbais dos protagonistas. Falava-se pouco, dizia-se muito. "Vision" procura ser novamente disruptivo nesse sentido e, de igual forma, também tangencia a limitação do sentido da visão como recurso narrativo que encontra amparo na estética cinematográfica. No primeiro caso, o ar etéreo da evolução narrativa é extremamente coeso. Nessa última experimentação, não passa de uma investida forçada em colocar o estilo à frente do conteúdo.

Juliette Binoche, que interpreta Jeanne, visita uma floresta japonesa em busca da erva também denominada vision. O interesse certeiro é motivado pela crença de que a planta libera esporos, em intervalos de tempo quase milenares, capazes de dissipar a dor humana. Pelos seus cálculos, esse momento está próximo de acontecer. O longa não envereda por uma jornada mata adentro na busca da erva. O olhar recai, sobretudo, na relação de Jeanne e Tomo, um morador local que oferece hospedagem para a turista francesa.

O apelo visual da floresta densa é sensibilizador de início. Mas, quando inserido no propósito de exercitar a musculatura transcendental das câmeras, que invariavelmente percorre longos planos contemplativos, até mesmo a natureza não resiste e fica monótona. Poderia ser funcional, mas como observado, não há coesão no que se quer expressar entre as relações humanas e a linha de direção escolhida. Outro elemento mal explorado são as viagens no tempo. Possivelmente fazendo alusão a erva "vision", são inúmeras as visões de momentos passados e futuros que buscam resgatar elucidações que não existem.

Nesse exercício de capturar essências por meio de insinuações executadas de forma extremamente reflexiva, constrói-se uma catarse provocativa que se restringe aos idealizadores. o público não comunga dessa oferta.

Nem Vale Ver !