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PiTacO do PapO - 'Downton Abbey - O Filme' | 2019

NOTA 8.5

Por Rogério Machado


Não são as incríveis locações dos prados ingleses, os belos cenários ou os figurinos impecáveis que chamam a atenção na versão para as telonas do sucesso televisivo 'Downton Abbey'. A série que ganhou o mundo, abraça todo tipo de público (pelo menos aqui, na vida real) muito mais pela habilidade de desenrolar de maneira leve seus dramas mais densos, e fazer a experiência prazerosa diante da audiência. No que diz respeito a mim, preciso confessar: nunca vi um episódio sequer e nesse texto, interessa pra mim essa obra em isolado, sem levar em consideração a vida pregressa desses personagens e sim como eles funcionam entre si; nessa história em especial que acontece um ano depois do ano retratado no último episódio da série, que foi no primeiro dia de 1926.


O mote para re-startar a trama  é nada mais nada menos do que uma visita da família real, mais especificamente do rei George 5º (avô da rainha Elizabeth 2ª e interpretado por Simon Jones) e da rainha Mary (Geraldine James), que estão na região de Yorkshire para visitar a filha, a princesa Mary (Kate Phillips). Mas nem tudo são flores, joias, chapéus e pratarias: os empregados de Downton logo descobrem que vão ser colocados de lado pelos funcionários da Família Real, que vão com a coroa onde quer que eles estejam. 

O roteiro de Julian Fellows (também responsável por todas as temporadas da série) não poderia ser mais feliz: o embate entre os fiéis criados da imponente Downton Abbey e os serviçais da comitiva da Coroa Inglesa é divertidíssimo e é o que praticamente faz a movimentação de toda a trama. São sequências impagáveis e com um toque humor bem diferente do que vemos no andar de cima (leia-se aristocratas) - entre os patrões um tom de refinamento, em baixo uma pegada com certa inocência. Mesmo não tendo visto a empreitada para a tevê, noto que é uma característica forte e talvez a marca registrada da produção. 

Entre a aristocracia (a razão de ser do projeto),  não haveria como deixar passar a forte presença da lendária Maggie Smith (muito conhecida por seu papel como a professora Minerva McGonagall na saga 'Harry Potter'), que como a matriarca Violet Crawley, nos presenteia com diálogos afiadíssimos e bem temperados, que destoam da polidez do restante da família Crawley. Além dela, destaco também a  grande atriz inglesa Imelda Stauton (que guarda um segredo importante que é revelado no longa) sempre numa troca irrepreensível em cena com a veterana Smith. 

Pra mim, leigo a despeito da série, o mais delicioso de se ver além de tudo que já disse, é como a direção de Michael Engler trata as diferenças de classes: elas existem, sabemos quem são os empregados, quem são os nobres e quem são os privilegiados, mas não notamos um tom arrogante destacando isso.  Nota-se um respeito com cada indivíduo, onde cada um reconhece o lugar do outro. Não veremos aqui empregados serem rebaixados por serem empregados e patrões serem enganados por estarem numa posição de privilégio. Há um convívio hormônico, e é acertado não apostar no velho clichê da imposição de superioridade. 

É bem possível que a experiência seja mais completa para quem conheça mais a fundo a vida pregressa de cada componente que compõe esse grande tabuleiro de peças, mas ainda sim é impossível atravessar as quase duas horas dessa versão cinematográfica e não criar uma empatia imediata com alguns personagens melhor explorados dentro dessa nova história da nobre família Crawley. 


Vale Ver ! 


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