PiTacO do PapO - 'Luta de Classes' | 2019

NOTA 7.0

Por Rafael Yonamine @cinemacrica

A temática do exercício de convicções políticas é objeto central do longa francês "Luta de Classes".  Apesar da distância, tanto geográfica quanto sócio-cultural, a possibilidade de traçar paralelos com o que temos visto no recente Brasil político é imediata. Com uma abordagem cômica, o diretor Michel Leclerc pontua elementos de uma família adepta aos ideais de esquerda, mas que constante vê seus valores em xeque.

A crítica retratada, por um lado, pode assumir um tom leve visto que reside num longa docemente despretensioso. Por outro, pode assumir uma postura de deboche ácido por ridicularizar princípios profundos. Leclerc se vale de todo o corpo familiar para explorar esse objeto. O foco inicial, que prioriza o casal Paul e Sofia, logo amplia o escopo para o filho e criança Corentin. Enquanto a temática adulta trafega em temas correlatos como situações no ambiente de trabalho, o universo infantil aborda ainda outras questões como a aceitação, convivência multicultural e laicidade, mas sempre imersos nos olhares inocentes daqueles cujas inclinações e definições de preferências ainda são embrionárias.

O humor crítico adota o caminho de pontuar, primeiramente, a postura rígida do casal frente a alguma temática polêmica. Segue-se a isso a oferta de situações capazes de colocar esses princípios esquerdistas, inicialmente absolutos,  num terreno de maior flexibilidade. Por fim, fecha-se o ciclo com a concessão banhada em humor. A cena de abertura é hilária e ilustra bem o ponto: durante a venda do apartamento onde viveram por 7 anos, o casal se recusa a cobrar o que antes valia $200 mil pelos $400 mil atuais, conforme sugerido pelo corretor. Um abuso ceder à valorização do imóvel decorrente da especulação imobiliária. A ideia inicial, inclusive, é vender pelo mesmo preço da compra, os modestos $200 mil. Contudo, ao saber dos valores e custos da nova moradia, o ideal não burguês cede e o valor praticado é o simbólico $399 mil.

Conduzido com leveza ácida, Leclerc traz tantos outros exemplos de flexibilização de princípios, indo do conflito à contradição. Os momentos seguem altos e baixos, alguns não tão engraçados e extremamente inverossímeis, mas outros que podem render reflexão acompanhada de bons risos.

Vale Ver !