Adsense Cabeçalho

Especial: 43ª Mostra Internacional de Cinema de SP | Review Parte 2

A 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo já chegou ao fim. Foram mais de 10 dias vivendo e respirando cinema. A correria do nosso querido crítico e colaborador Rafael Yonamine foi enorme, mas os deuses do cinema sempre recompensam. No primeiro Review, publicado dias atrás, você pôde conferir a síntese de 12 longas, e nesse segundo apanhado temos 7 boas obras que hão de estar em breve (assim esperamos) em circuito comercial. Uma grande parte do compilado da Mostra estará na tradicional repescagem que segue até quarta feira (dia 06). Pega  a dica e corre pro cinema mais próximo! Confira a programação aqui. 



Ranking:

➧ Mr.Jimmy - NOTA 9.0
➧ Deus é Mulher e Seu Nome é Petúnia -  NOTA 9.0
➧ Tremores- NOTA 8.0
➧ Até Logo, Meu Filho - NOTA 8.0
➧ Dente de Leite - NOTA 8.0
➧ Poeira- NOTA 4.0
➧ Fim de Estação  - NOTA 3.0


Sínteses e Avaliações :

Mr.Jimmy: confesso que documentários não são minha especialidade, mas, eis aqui uma pérola do gênero que transgride a necessidade de conhecimentos prévios para ser admirada. O tema peculiar gera um magnetismo imediato: a busca incessante de um guitarrista japonês em atingir a perfeição na imitação da lendária banda de rock Led Zeppelin. A obsessão é funcional para construir uma linha narrativa sobre a evolução dessa jornada, bem como em trazer diversos momentos hilários. Essa estrutura documental permite a construção de uma quase ficção. Acompanhamos o guitarrista desde passos elementares como a confecção dos instrumentos e roupas, até o convívio com outros músicos necessários para compor a banda. Simplesmente incrível.


Deus é Mulher e Seu Nome é Petúnia: de forma criativa, constrói-se um cenário onde a discriminação de gênero chega ao ridículo, tamanho o absurdo contextual. Baseado no senso comum, ou no mais puro machismo conservador, uma comunidade do leste europeu recrimina uma jovem por ter pego a cruz numa gincana católica. A inquietação masculina reside nesse simples fato, a conquista por alguém do gênero feminino. O enredo se desenrola habilmente na tentativa da repressão por parte da comunidade que, por sua vez, carece de respaldo legal.

Tremores: filme extremamente elegante que mais uma vez prova que não existe temática desgastada, o que existe são abordagens não criativas. Em "Tremores", demoramos uns bons minutos para entender o episódio central que causa uma grave ruptura na família do protagonista. Ficamos instigados em saber o porque daquele pai de família abandonar o lar. Os recados são sutis, indícios são levantados sem pressa. O resultado é uma crítica ao preconceito e uma reflexão provocativa sobre o que é moral ou imoral quando emparelhamos a vivência familiar e as paixões individuais.


Até Logo, Meu Filho: apesar da extensão próxima das 3h, não considerei esse longa essencialmente dramático cansativo. É o retrato sensível do luto familiar digerido ao longo de anos. A morte do filho de um casal chinês arrasta episódios paralelos que vão além das ações dos pais desconsolados. Há espaço para uma trama interessante que envolve parentes e amigos num aprofundamento psicológico riquíssimo. Vale também como registro social, pois as ações ocorrem em meio às políticas do governo comunista que por um lado decreta medidas como a limitação de filhos, e por outro exercita a abertura econômica.

Dente de Leite: sobra estilo no retrato de algo que poderia ser absolutamente comum. Ao centro, o romance entre uma adolescente adoecendo de um grave câncer e um jovem que representa perfeitamente o arquétipo do relaxado. A riqueza vem do trabalho minucioso de vários detalhes que circundam o contexto. A jovem é de uma família rica, logo isolamos o drama estritamente à doença, não dividindo espaço com privações materiais. O romance polêmico não popula toda a amplitude dramática, o enredo é poderosamente enriquecido com o estudo da índole humana calcada nos supostos detentores da moral: os pais.


Poeira: O contexto é atual e busca nos mostrar um pouco do que é o cotidiano na porção indiana central sob a violência da guerra civil. A denúncia tem como pretexto a jornada de um estrangeiro que segue os mesmos passos da parceira desaparecida. Apesar do propósito nobre, o enredo não é diferenciado. Vemos em "Poeira" uma jornada como tantas outras.

Fim de Estação: filme que figurou em algumas listas de recomendações para a Mostra. Apesar do ar autoral, o experimento é frágil. A proposta, respaldada inclusive pelo diretor num bate-papo após a exibição, era de trazer à luz a linha tênue que separa as diferentes emoções humanas. Dentro de um contexto, ao meu ver, pessimista, diferentemente do que alega o diretor, uma família do Azerbaijão vê sua estrutura ruir. Numa sequência trivial de acontecimentos, o diretor não consegue mobilizar a audiência para o que se propõe.


***

Rafael Yonamine: Formado e pós-graduado em Administração, já lidou com supply chain e agora business intelligence em marketing digital. Além da paixão pelo cinema, é um viciado em punk rock. E no cotidiano, dificilmente falta a um treino (incluindo finais de semana).



Nenhum comentário