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PiTacO do PapO - 'Mama Colonel' | 2019

NOTA 9.0

Por Rogério Machado


As fardas em tons de marinho e as botas super lustradas contrastam com o vazio cinzento do Congo. É lá que uma equipe atua contra a violência e o abuso infantil, e onde esse documentário de Dieudo Hamadi ('Exame de Estado' - 2014) se apoia para contar uma história pesada e desumana. Hamadi, um Congolês, tem se especializado em denunciar os problemas de seu país dentro do cinema verdade. 'Mama Colonel', depois de passar pelo Berlinale e Festival do Rio em 2017, finalmente chega em circuito comercial no Brasil.


O doc acompanha a incansável  coronel Honorine Munyole , uma  viúva de quarenta e quatro anos e mãe de sete filhos pequenos. Ela todos os dias cumpre um ritual para seu trabalho: usa o uniforme, boina e bolsa preta como um escudo protetor, na função diária de dirigir uma unidade policial dedicada a proteger as mulheres que foram estupradas e as crianças que sofreram abusos nas regiões do Congo, que estão assoladas pela guerra. Muitos alegam reflexos desastrosos da 'Guerra dos Seis Dias', que fizeram vítimas naquele lugar, e ainda fazem. 

A direção de Hamadi é certeira em seu objetivo: o de deixar as claras as deficiências de seu povo e o de elevar o poder de ação da comunidade. Não depender do governo ou de órgãos públicos para resolver as questões indigestas, principalmente no que tange à doenças sociais tão graves como o estupro e a negligência da sociedade em torno desse mal. A personificação desse sentimento de justiça e amparo atende pelo nome de Mama Colonel, um apelido que traduz o acolhimento que essa personagem (real) provoca em seu meio. Desgastado pela impunidade, mas nem por isso vencido.

Depois de diversas sequências que nos tiram da posição de conforto, Hamadi ainda colide seu tema central com questões culturais e das crendices que ainda fazem, principalmente mulheres e crianças, sofrerem pelo fanatismo: como quando são acusadas de serem feiticeiras e passam por toda sorte de opressão e violência por conta disso. A tomada final de 'Mama Colonel' imediatamente me remeteu a cena de abertura do atordoante 'Eu Não Sou uma Bruxa', de Rungano Nyoni, que trabalha num ambiente ficcional, mas também denuncia essa equivocada prática apoiada no fanatismo. 

'Mama Colonel' é um soco no estômago, mas também é refrigério. Saber que ainda existem anjos pelo mundo  lutando por gente indefesa e fazendo a diferença mesmo com tão pouco, é animador e faz crer que ainda existe saída para a humanidade. 


Super Vale Ver !


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