PiTacO do PapO - 'E Então Nós Dançamos' | 2019
NOTA 8.0
Por Rafael Yonamine @cinemacrica
O jovem Merab é mais um dos alunos sonhadores de uma academia de dança típica na Geórgia. O horizonte não vai além do simples desejo de ter êxito nas audições para então ingressar e emancipar-se em grandes companhias. A jornada artística, no entanto, sofre a interferência de Irakli, novo aluno de estilo mais ousado na arte e provocativo na esfera social.
A obra segue as boas práticas do gênero. Em alguma medida, inclusive, assemelha-se ao "Cisne Negro": resiliência para a superação na carreira de dançarino, iminência de algum fato profissional relevante para provar-se e a interferência de um novo elemento caracterizado por um colega-rival de estilo diametralmente oposto ao do protagonista. Apesar do apego à cartilha de filmes de dança, "E Então Nós Dançamos" consegue com propriedade sedimentar seu espaço. A proposta, portanto, não se apropria de trajetórias malabarísticas, mas aprofunda-se no convite de nos mostrar a humanização que rodeia esse ecossistema artístico.
A contextualização diferenciada tem início em deixar claro o peso cultural que a dança tem na Geórgia e, em especial, na família de Merab. Em momento algum o fato de ser dançarino é visto preconceituosamente, na verdade, é uma carreira que a família retratada se orgulha e comunga: avós e pais viveram a dança. As sequências dos bailarinos têm dosagens precisas, não invadem a narrativa, mas cativam e mostram o porquê pode ser um orgulho nacional.
Assim também é coerente o foco no indivíduo. Merab não se privilegia de capacidades ou virtudes distintas. É apenas um jovem que lida com adversidades como o sonho de ser dançarino profissional, a utopia de viver da dança no curto-prazo, lar desestruturado e o recente preconceito sobre o início da expressão de sua homossexualidade. O diferencial é a amarração humana poderosa desses elementos culturais e individuais regidos delicadamente sobre o poético piso de dança. O contraponto à intolerância social e cobrança profissional têm na livre expressão artística a mais inspiradora das respostas.
Vale Ver !
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