PiTacO do PapO - 'Invasão ao Serviço Secreto' | 2019
NOTA 7.5
O velho - e satisfatório - embate entre leões
Por Vinícius Martins @cinemarcante
Quem assistiu aos dois filmes anteriores da franquia 'Invasão' (ou 'Has Fallen', no original em inglês) sabe que as peripécias que Mike Channing (Gerard Butler) vive em suas desventuras improváveis, para estabelecer a ordem no meio do caos dos ataques terroristas que enfrenta, são demasiado miraculosas para serem críveis sem uma boa dose de cinismo. Mike Channing é insistentemente endeusado em sua jornada, e seus valores tão nobres e seguros são reflexos do espírito perseverante que o povo norte-americano gosta de bradar que tem. Quando ninguém mais consegue ficar de pé, lá está ele; quando não há mais esperanças, lá está ele; quando ninguém mais se importa, lá está ele também. Seu estilo "brutamonte estrategista" surge como uma mistura de John McClane e MacGyver, sempre tendo a excessiva sorte de nunca ser atingido por tiros no meio do fogo cruzado ou nunca ficando lesionado o bastante ao ponto de se entregar nas lutas que trava. Mike Channing é o cara para salvar o dia, e é isso o que ele faz de novo neste "novo" capítulo de sua saga de proteção ao presidente dos Estados Unidos. Porém, desta vez, ele também é o principal suspeito pelo ataque.
Se algo na descrição acima lhe pareceu familiar, saiba que não é só uma aparência. O longa faz reuso de ferramentas, estilos, estruturas e até reviravoltas já vistas em outros tantos filmes do gênero, e não se preocupa em inovar em nada no que diz respeito a sua apresentação. Isso até poderia ser um traço de preguiça descarada, mas não é o caso aqui; a intenção é nitidamente dar essa impressão, entregar mais do mesmo mingauzinho mastigado e de fácil digestão, mas de uma maneira bem conduzida e recheada de clichês calorosos (e de certo modo até nostálgicos, inclusive) aos amantes de uma porradaria avulsa com o cérebro em baixa voltagem - não que quem goste desse tipo de filme seja burro, não me entenda mal; eu fui um dos que gostou do resultado final, e não há demérito em gostar de uma sessão assim. O que digo aqui é que é um filme fácil de assistir e de antever, que não exige do público uma elaboração mental complexa para ser compreendido. Em outras palavras, é um filme de ação que abdica do mistério em prol da testosterona - e isso, por incrível que pareça, é algo bom de assistir. Não há uma construção como a dos filmes de Jaume Collet-Serra, e nem um roteiro ambicioso como o do excelente 'Noite Sem Fim' (2015); aqui há a ação pela ação, com o foco do protagonista no objetivo de provar a própria inocência, entregar os verdadeiros culpados (que o público sabe quem são com ampla facilidade), e manter o presidente vivo. De resto é só desviar de balas, matar uns figurantes e ficar vivo até a conclusão do último ato.
Há um certo charme no cinema brucutu, com seu acabamento rústico (dizem que "rústico" é o novo feio, mas há controvérsias) e imperfeito, que se faz em pancadarias aleatórias, tiroteios por vezes gratuitos e efeitos visuais que parecem ter sido concebidos por estudantes em colação de grau - ou feitos propositalmente com um chroma key fanfarrão que beira o charlatanismo, apenas para dar ares “robustos” à fotografia. Até a graça é machona e por vezes desengonçada, quase como se o riso estivesse deslocado com o propósito da trama. O humor aqui é como um deboche sobre a constatação do óbvio, com tons de surpresa que chegam aos personagens quase como caricaturas. Todavia, é funcional em si e consegue cativar pela falta de jeito explícita dos personagens em lidar com coisas simples e banais.
O ponto principal do filme, no entanto, acaba sendo a mensagem que se dá pelo estabelecer da construção dos relacionamentos. Seja no casamento confiável e independente, na amizade traiçoeira, na reconstrução com o elo paterno ou no silêncio inquieto em um diálogo com o presidente (quando até a trilha sonora se retira para dar lugar ao constrangimento ansioso de uma resposta calculada), o filme visita os principais dilemas existenciais do indivíduo que é refém de um sistema no qual se encontra tão ligado que chega a depender dele para viver. Leões, meus queridos, leões.
PS: Há um figurante notável bem no finalzinho do filme, que o público brasileiro certamente reconhece com facilidade.
Vale Ver !
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