PiTacO do PapO - 'A Resistência de Inga' | 2019
NOTA 6.5
Por Rafael Yonamine @cinemacrica
Também há o bem que vem para o mal. Essa é a principal construção desenvolvida por Grímur Hákonarson, mesmo diretor do excelente "A Ovelha Negra". Com muito menos brilho que sua obra anterior, Hákonarson expõe os bastidores podres das alianças comerciais pecuárias no interior da Islândia. Conceitualmente, a Cooperativa deveria gerar escala agregando a produção pulverizada de pequenos fazendeiros e viabilizando de forma unificada sua comercialização. Entretanto, mesmo cumprindo a primeira etapa, a entidade avança na esfera abusiva obrigando que seus colaboradores comprem insumos apenas dela. Além do problema da falta de escolha, os fazendeiros locais recaem nos previsíveis preços mais altos do que opções vindas da capital Reykjavik.
Para a realidade de Inga, a opressão econômica ganha contornos ainda mais dramáticos pela perda do marido num acidente automobilístico. O sentimento de revolta se inflama quando a protagonista liga os pontos e passa a ter uma visão completa da máfia sob a qual está submetida e o que motivou a morte do seu parceiro. Esse primeiro ato é eficiente em prender a atenção e ocupa uma parcela pequena do longa. A proporção não chega a ser um problema, mas passada a introdução, a trama perde força e recai em caracterizações óbvias.
O luto de Inga é crível, mas sua resistência e consequentes represálias da cúpula da Cooperativa e simpatizantes seguem uma lógica pouco imaginativa. É de se esperar que a personagem manifeste insatisfação e busque alianças. E, como em qualquer roteiro, também esperamos que o maniqueísmo presente na entidade corrupta ofereça contratempos a heroína. É exatamente isso que acontece. A escolha dos episódios não é inspiradora e segue o esquema de deixar excessivamente claro o papel de cada personagem no todo. Sem adiantar o final, posso ao menos dizer que a falta de brilhantismo é a mesma que o desenvolvimento.
Tomando como base o filme anterior, esperava muito mais desse diretor que me parecia ter alto potencial. O que Hákonarson conseguiu em mim foi apresentar um sobrenome cuja acentuação não se enquadra em nenhuma das nossas possibilidades gramaticais.
Vale Ver Mas Nem Tanto !
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