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PiTacO do PapO - 'Retrato de uma Jovem em Chamas' | 2019

NOTA 8.5


Por Rogério Machado


As noções de empoderamento foram atualizadas com sucesso. Apesar do termo 'empoderamento feminino' estar em alta de uns anos pra cá e criar uma sensação de militância, em 'Retrato de Uma Jovem em Chamas', - integrante da seleção do Festival do Rio esse ano -, a diretora Céline Sciamma ('Tomboy' - 2011) vai além do termo construindo muito naturalmente um drama que carrega a força feminina sem pender para o lado político. O longa, que  narra o repentino amor entre duas jovens mulheres, fala mais ao romantismo do que qualquer outro tema.


A história de passa na França do século XVIII, e tem seu ponto de partida quando Marianne (Noémie Merlant), uma jovem e talentosa pintora,  recebe a tarefa de pintar um retrato de Héloïse (Adèle Haenel) para seu casamento, mas isso sem que ela saiba. Outras  tentativas sem sucesso  haviam sido feitas, mas a jovem de semblante turvo não conseguia superar a trágica morte da irmã. Passando seus dias observando Héloïse e as noites pintando, Marianne se vê cada vez mais próxima de sua modelo, conforme os últimos dias de liberdade da moça antes do iminente casamento se veem prestes a acabar.

Vencedor de Melhor Roteiro e da Palma Queer em Cannes na mostra Um Certo Olhar, o filme tem um acabamento luxuoso. A fotografia, muito limpa e preenchida com cenários rochosos rodeados de mar, ampliam nosso olhar através dessas mulheres que vão se revelando os poucos - tanto entre elas como para o público - , tudo é muito delicado e as performances de Merlant e Haenel (essa última figurinha fácil no cinema francês) são sobremaneira tocantes. 

A fotografia de Claire Mathon não se vale só dos planos ao ar livre e com a luz do dia, as poucas sequências noturnas, (tanto como quando Marianne vislumbra Héloïse pelos corredores escuros da casa com um vestido de noiva, como quando ao redor de uma fogueira o vestido de Héloïse pega fogo, traduzindo de forma literal e altamente plástica o título) , são de alto nível técnico e de uma beleza ímpar.  

É bem verdade que o roteiro não ousa ir além. Afinal de contas, o mote dos casamentos arranjados no século passado, onde o comprometimento era selado através de uma pintura,  poderia ser melhor explorado. Contudo, no que diz respeito ao tom romântico, desenvolvido com muito bom gosto por sinal, a produção supera todas as expectativas e vale a espiada. Vale lembrar que o longa figura na lista de Melhor Filme em Língua Estrangeiro no Globo de Ouro 2020.


Vale Ver !


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