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PiTacO do PapO - 'Sinônimos' | 2019

NOTA 8.0

Por Rogério Machado


O francês 'Synonymes', que chega no circuito essa semana ao Brasil, foi o grande vencedor num dos festivais mais prestigiados do mundo: o Berlinale. Com pouco a mostrar  mas muito a dizer, o diretor israelense Nadav Lapid apresenta uma incômoda narrativa de cunho altamente político.  Aliás, parece ter sido uma comoção mundial - o cinema esse ano, em diversos países e em grandes eventos, tendeu a laurear obras na mesma linha - 'Parasita' , do sul-coreano Bong Joon-ho, levou o prêmio maior em Cannes. 


A história nos introduz ao  jovem israelense Yoav (Tom Mercier), que fugiu de Israel e se recusa a falar a língua nativa. Sua decisão, como se verá ao longo da trama , é ideológica. Ex-combatente, ele é contrário à política militarista de seu país e se nega até a falar no idioma materno com o seu pai, que tenta resgatá-lo. Desamparado, ele é acolhido por um jovem casal, Emile (Quentin Dolmaire) e Caroline (Louise Chevillotte), que é uma sátira do estereótipo parisiense: ele é um perturbado escritor, sexualmente ambíguo e dado a divagações existencialistas; ela é sofisticada, impositiva e sedutora. 

Determinado a extinguir suas origens, seu principal companheiro é um dicionário de francês-hebreu. Ele anda pelas ruas memorizando palavras, frases, quer pensar e ser como um cidadão francês. Cabe aqui uma grande crítica que poderia servir para qualquer país que não segue os moldes de grandes potências mundiais , sejam financeiros, culturais, políticos  e religiosos (há uma sequência interessante bem próxima ao desfecho que demonstra isso ) - nesse caso as comparações se estreitam entre França e Israel, mas certamente se encaixam em outras unidades federativas. Yoav sente vergonha de suas origens pelo que foi obrigado a cumprir em nome de seu país, mas claro, isso é só uma maneira de ilustrar; o discurso é muito mais abrangente. 

Infelizmente, o diretor opta por uma linguagem nada convencional, o que pode prejudicar os mais desatentos a compreender o recado num todo. Mas é paralelamente interessante ver  a trajetória desse personagem em contato com tantas diferenças, seja comportamental ou cultural. 'Sinônimos' reforça a rejeição pela guerra, pela política de imigração e até pelo terrorismo. É um filme para poucos, que diz mais com imagens - aparentemente desconexas- do que com palavras, mas que tem grande representatividade dentro do que se destina.


Vale Ver !


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