PiTacO do PapO - 'Feliz Aniversário' | 2019
NOTA 7.5
Por Rafael Yonamine @cinemacrica
O cinema francês tem de fato grande apetite por esta fórmula: reunir familiares ou amigos numa casa e fazer aflorar desse encontro dores e delícias. As últimas experiências, pelo menos as que passaram por aqui, não foram marcantes. Nas mãos de Cédric Kahn, entretanto, a receita apresenta notável valor mesmo não sendo genial. Na sua proposta, a casa da matriarca recebe filhos e netos para a celebração do seu aniversário. Não bastando as particularidades dos entes já presentes, o momento familiar incorpora a presença de Claire, uma das filhas da aniversariante e com a vida ainda mais desequilibrada do que a de todos os presentes.
Os problemas usuais dessa fórmula é recair na construção pobre de personagens ou oferecer dramas mal trabalhados. A inabilidade do manuseio apropriado da pluralidade de recursos como as diversas entidades e dramas paralelos é o problema fundamental. Porém, Kahn consegue dar um passo além da média e promove desenvolvimentos satisfatórios. "Feliz Aniversário" consegue pendular entre os extremos da nossa índole, na moeda familiar rodada pelo diretor há a face inquestionável do drama assim como o lado da ternura. A inserção da caçula problemática é poderosa.
Na função mais óbvia de minar o status quo, Emmanuelle Bercot na pele de Claire é extremamente competente. Bercot interpreta alguém cuja condição psiquiátrica contribui para a protagonização de atitudes condenáveis como o abandono da filha e a postura racista explícita. Agregue a isso uma entrega imersa em histeria compondo uma personagem persuasiva. Do outro lado, os extremos dramáticos convivem com sinais de amor que insistem em se manifestar num ambiente hostil. Para esse fim, destaco o bom trabalho dos atores infantis. Os netos, na condição de vítimas da miséria da vida adulta, trazem sinais de positividade. Assim também o faz a avó e aniversariante Andréa, a tolerância da personagem não hesita em oferecer o tom conciliatório.
Basicamente, observa-se o desequilíbrio da meia-idade sendo cercada pelo inocente amor infantil e a compreensão generosa dos mais velhos.
Vale Ver !
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