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'1917' | 2020

NOTA 8.5

Por Rafael Yonamine @cinemacrica


Mesmo fazendo esforço, não me recordo de um trabalho que tenha remontado a experiência das trincheiras de guerra com tanta fidedignidade. Em meio à hostilidade da Primeira Guerra Mundial, o diretor Sam Mendes propõe um toque de humanização: o cabo Blake é designado para portar a mensagem de que uma grande divisão do exército britânico está correndo perigo, a investida planejada ao território inimigo é uma armadilha. Blake tem o incentivo adicional de ter o irmão entre os soldados ludibriados. Para a missão, o cabo conta com apenas um companheiro, o também cabo Schofield.


Por meio de planos sequências deslumbrantes, os horrores da guerra são recontados sem pudores. Os cabos percorrem longos corredores de trincheiras e ambientes degradados com o respaldo de um design de produção incrível. A câmera que acompanha a dupla de forma persistente é hábil em valorizar a fotografia, também em alto nível, e dar volume à atmosfera bélica. Destaco os planos iniciais onde os cabos percorrem os campos de guerra já bombardeados e o trabalho visual primoroso da fuga noturna de Schofield em meio a uma cidade em chamas. O resultado não pode ser outro que não uma experiência imersiva numa perspectiva quase que pessoal sobre o que é experienciar uma guerra.

Abstraindo a economia do envio de apenas dois soldados para um episódio relevante, o que pode ser alvo de críticas, o rigor técnico envelopa a humanização com o selo do silêncio. As personalidades ficam num nível raso de exploração, a enunciação do elo fraterno dos irmãos Blake é muito pouco para criar uma sensibilização substancial. O apalpamento do embate real deveria ser o grande elemento modelador da evolução das personalidades ou responsável por simplesmente fazer aflorar o que somos quando orientados pelo instinto. O que se observa é a orientação absoluta para a execução da missão com tímidos tateamentos na esfera humana.

Apesar dessas ressalvas, "1917" é muito prazeroso de ser assistido. Vale muito a experiência de vê-lo no cinema.



Vale Ver !


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