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Jojo Rabbit | 2020

NOTA 9

Por Karina Massud @cinemassud 

"Deixe tudo acontecer com você.
Beleza e terror
Apenas siga em frente
Nenhum sentimento é definitivo."    Rainer Maria Rilke

Por mais espinhoso que seja o tema Nazismo/Holocausto, ele sempre rende roteiros ótimos, se bem trabalhados. O diretor Taiki Waititi (“O que Fazemos nas Sombras” e “Thor: Ragnarok”) conseguiu no filme “Jojo Rabbit” um feito delicado e difícil  que é satirizar o nazismo sem cair no mau gosto. A história, que é contada sob o ponto de vista do protagonista mirim, é adaptada do best-seller de 2004 de Christine Leunes, “Caging Skies” (céus  que enjaulam ou céus aprisionantes).

Jojo é um garoto de 10 anos que estuda no acampamento da Juventude Nazista; ele é um fanático  que sabe atirar e sonha em ser guarda pessoal do Führer. Essa imagem de criança é ousada, visto que em filmes do gênero elas estão sempre no papel de vítimas do regime e não de vilãs. Crianças que vão a um acampamento nazista para sofrer lavagem cerebral: para aprender tudo sobre a ideologia ariana, a idolatrar Hitler e a odiar os judeus, aquelas “criaturas perigosas com chifres e rabo pontudos que comem criancinhas”. Jojo tem um amigo imaginário que é uma caricatura bufona de Hitler (se é que se pode dizer isso, já que ele já era uma caricatura por si só) que passa o dia buzinando sandices no seu ouvido. Rose (Scarlett Johansson) é a mãe do mini-nazista, uma mulher alegre e batalhadora que perdeu a filha e o marido, e que suporta a opressão do regime nazista tentando tornar a vida de Jojo mais leve até que a guerra acabe. Eles protagonizam momentos de estilhaçar o coração.  A vidinha do menino começa a mudar quando ele descobre que sua mãe abriga no sótão uma judia chamada Elsa.


O elenco infantil é adorável e muito talentoso, e tem diálogos muito bem escritos, de crianças que querem viver como tal, mas que são obrigadas a viver como adultos em guerra. Roman Griffin Davis, que ganhou o Critics´Choice de Melhor Jovem Ator, está espetacular como Jojo: ele é doce, ingênuo, e acreditem, nós o amamos mesmo ele dizendo barbaridades nazistas.

O tom da narrativa é o do escracho total: grupos de clones de nazistas do tipo, “Eu tive 18 filhos para a Alemanha” ou “Crianças, é hora de queimar livros!”. Exageros derivados das atrocidades de um dos períodos mais tristes da História da humanidade quando mais de 6 milhões de judeus foram dizimados. Absurdos que nos fazem  rir, mas é um riso nervoso e amargo. O pano de fundo é uma cidade coberta de suásticas, ruas bombardeadas e rock clássico (Beatles, Ramones, David Bowie) cantado em alemão.

O óbvio é escancarado: o quão insanos eram os dogmas dos nazistas que se achavam uma raça ariana pura e superior. Nazistas, se pudessem se olhar no espelho e além do próprio umbigo, talvez enxergassem exatamente a imagem retratada no filme: de pessoas patéticas vivendo na mais profunda alienação e demência. Os horrores da guerra são ridicularizados mas não menosprezados, pois devem sempre ser lembrados para que não se repitam!

A parte bela da trama é a jornada de transformação de Jojo a partir de sua amizade com Elsa, de nazistinha cego a uma pessoa questionadora que passa a enxergar os judeus como seres humanos  - bastou  sair da bolha alienante em que foi educado. “Jojo Rabbit” é tocante, inteligente e nos remete ao clássico do cinema “O Grande Ditador”, onde Charles Chaplin brilhantemente satiriza o nazismo, um filme que até hoje é atualíssimo.  Para assistir, rir, chorar e principalmente refletir.


Super Vale Ver !


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