Adsense Cabeçalho

Mesmo novelesco, 'Harriet' tem atuação poderosa de Cynthia Erivo | 2020

NOTA 7.5

Moisés de saias

Por Karina Massud @cinemassud


Uma das grandes vergonhas da História da humanidade é a escravidão. A ideia de alguém ser dono de alguém, dispor de sua vida e de seus familiares por um preço em dinheiro é abominável, mas aceitável até há poucos séculos; nos EUA a escravatura foi abolida totalmente em 1865 e no Brasil um pouco mais tarde, em 1888.

Houve um período bem inusitado quando ainda vigorava o regime escravocrata onde existiam negros livres (que foram alforriados ou compraram sua liberdade, algo raro) convivendo com outros ainda escravos como se isso fosse muito natural. Ainda mais inusitadas e emocionantes são as histórias inspiradoras que vez ou outra são contadas em filmes ou séries.


“Harriet” é uma dessas histórias notáveis até agora desconhecidas do grande público. Araminta Ross/Minty, é uma escrava que quer a liberdade pra poder casar e formar família, mas como isso é negado pelo seu senhor, ela resolve fugir e milagrosamente consegue, depois de atravessar rios e florestas rumo à liberdade. Para marcar a liberdade recém-adquirida ela passa a se chamar Harriet Tubman   em homenagem a sua mãe e seu marido. Ela se torna uma heroína libertadora dos escravos, e como tal adota o nome Moisés, aquele que libertou os judeus escravos no Egito e  os conduziu até a terra prometida. No caso de Harriet a terra prometida da liberdade é a Pennsylvania. Ela libertou 70 pessoas escravizadas e depois serviu na Guerra Civil como comandante de uma expedição que libertou mais de 700 pessoas. Nos últimos anos de vida virou ativista pelo sufrágio feminino. Tá bom de coragem e empoderamento pra vocês?!

Harriet tem visões que ela diz serem mensagens de Deus e às quais ela credita as fugas bem-sucedidas, mas as cenas dela tendo insights   são muito forçadas mesmo ela sendo uma mulher muito religiosa, ficaram sem sentido dentro do roteiro e cortam o ritmo da bela luta pela liberdade ali travada, só ela já seria emocionante o suficiente. O filme tem momentos repetitivos e cansativos que beiram a caricatura, um verdadeiro novelão! O senhor de Harriet (Joe Alwyn) é canastrão e parece o sádico Leôncio da novela clássica “Escrava Isaura”, com texto e interpretação cafonas. E, para completar, várias tomadas que se assemelham muito as de “E O Vento Levou”  - não gostei porque parecem uma cópia barata e não inspiração ou homenagem.

O linguajar é bem arcaico, de pessoas que não são alfabetizadas, pois faltam concordância verbal e conjunções o que dão bastante veracidade aos escravos, que contrastam com os já libertos. A canção tema do filme, “Stand Up”, concorre ao Oscar de Melhor Canção original, é lindíssima e merece destaque:  foi escrita e cantada pela própria Cynthia Erivo com um vozeirão e uma interpretação de arrepiar.

Cynthia Erivo brilha como Harriet, e sua indicação ao Oscar de Melhor Atriz (única atriz negra esse ano, uma pena!) foi merecidíssima, ela transmite emoções poderosas tanto no silêncio como no choro sofrido;  Erivo carrega um filme mediano que não faz jus à vida dessa mulher gloriosa, heroína da Guerra de Secessão. “Harriet” merece ser visto por ela e por sua inegável importância histórica.



Vale Ver !


Nenhum comentário